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O Perigo do Fundamentalismo e do fanatismo

"Duvidar de tudo ou crer em tudo são duas soluções igualmente cômodas; ambas nos dispensam da necessidade de reflexão." (Henri Paincore ).

 

Em minha opinião, todas as religiões que promovem a prática do bem e a evolução moral do ser humano devem ser respeitadas e deveriam respeitar-se umas às outras, unindo-se em um ideal ecumênico objetivando a paz mundial e o desenvolvimento da humanidade. Muito mais importante do que interpretações religiosas e da comprovação da “Verdade” defendida por cada filosofia é a prática efetiva do bem e da caridade para com o próximo, independente a qual religião o mesmo pertença. Porém o que vemos na prática é diferente. A maioria das religiões são muito intolerantes com relação a outras filosofias ou pontos de vista que sejam antagônicos à sua.

"Fundamentalismo" é um termo usado para referir-se à Crença na interpretação literal de livros que são considerados “sagrados” e, portanto, não podem jamais ser questionados, e o apego a dogmas que são considerados como “verdades absolutas” e devem ser seguidos rigorosamente de forma literal .

“Fanatismo” é a devoção incondicional, exaltada e completamente isenta de espírito crítico, a uma ideia ou concepção religiosa, caracterizado também pela intolerância a outras crenças.

Uma das características dos “fundamentalistas” e dos "fanáticos" é que eles jamais admitem ser assim classificados. Não se consideram absolutamente radicais, porque julgam estar simplesmente defendendo “a palavra de Deus” na Terra. Sua missão é converter aqueles que não compartilham de sua Fé, a quem chamam de “pessoas do mundo” ou “infiéis”, que estarão irremediavelmente condenados à “condenação eterna” caso não se convertam.

Sendo assim, é completamente impossível debater com um fundamentalista, pois ele jamais terá uma imparcialidade em seu raciocínio, jamais estará disposto a expô-lo à lógica e à razão. Sua verdade é absoluta, não pode ser questionada. Porém os fundamentalistas não conseguem enxergar como o apego radical à sua crença os acaba levando a praticar atos contraditórios à própria crença que defendem. Desta forma, religiões cuja essência é o amor e a paz são utilizadas para justificar os piores atos de violência e intolerância.

Temos visto, ao longo da história, o perigo que o fundamentalismo religioso representa e as consequências terríveis de sua prática.  Porém, é muito mais fácil uma pessoa enxergar o Fundamentalismo existente em outras religiões e negar veementemente a posição fundamentalista ou radical existente em sua própria religião.

Por exemplo, os cristãos conseguem enxergar e condenar facilmente o fundamentalismo existente em alguns radicais que defendem o Islamismo propagando o terrorismo através do mundo em nome de Allah, fundamentados em seu livro sagrado: O Alcorão. Porém os mesmos cristãos não admitem classificar como terrorismo ações exatamente iguais, ou até mesmo piores, praticadas na época de Moisés, fundamentado em seu livro sagrado: A Bíblia. Esta falta de imparcialidade denota fanatismo. Basta uma análise do texto bíblico para constatar que a crueldade e a violência daquela época não ficam devendo absolutamente nada à crueldade e violência que temos visto serem praticadas pelos terroristas modernos. E o motivo é exatamente o mesmo: Intolerância religiosa!

Na Idade média, através da Santa Inquisição, a Igreja Católica perseguiu e condenou  milhares de pessoas à morte porque julgava que as mesmas praticavam “bruxaria” e, portanto, mereciam “queimar no fogo do inferno”. Lembremos inclusive que, nesta época, a Igreja combatia a ciência, e defendia a tese de que o sol girava em torno da Terra. Afirmar o contrário era considerado uma heresia punível com a morte certa na fogueira. Mais uma vez: Em nome de Deus.

 

Matando em nome de Deus

A Bíblia é riquíssima em relatos de como eram comuns os massacres de mulheres, crianças e animais que eram realizados sempre, e convenientemente, “em nome de Deus”, porém, com objetivos políticos ocultos que a maioria das pessoas até hoje ignoram. Podemos citar, como um exemplo destes massacres covardes, a história relatada na Bíblia em “Números 31” quando, seguindo “ordens diretas de Deus”,  Moisés ordenou o ataque aos Midianitas, que adoravam um Deus diferente do seu.

Então foram reunidos 12 mil homens para a batalha, mil de cada uma das 12 tribos de Israel. Os soldados foram até a região Midiã e promoveram um enorme banho de sangue. Queimaram todas as cidades, mataram todos os homens e levaram as mulheres e crianças como escravas, além de todos os rebanhos e bens que puderam carregar até Moisés em seu  acampamento nas colinas de Moabe, próximo a Jericó.

Quando os soldados chegaram a Moabe, Moisés “indignou-se” ao perceber que os soldados não haviam matado as mulheres, dando-lhes novas ordens para matar todos os meninos e todas as mulheres, poupando apenas as meninas virgens, que ficariam como escravas dos soldados. Imaginemos o cruel destino destas meninas inocentes, que tiveram que passar o resto de suas vidas escravas e sendo estupradas por aqueles que massacraram seus pais. E tudo isso sob a “aprovação” de Deus!

Após o retorno de Midiã com todos os bens roubados dos Midianitas, entre eles muito ouro, os soldados foram contados e um detalhe chamou a atenção: Não houve uma baixa sequer no exército israelita! Isto indica claramente que não foi uma guerra, mas sim um massacre. O mais incrível é observar a atitude dos que seguem a Bíblia “ao pé da letra”, que  sustentam que tal Deus, no qual acreditam, seria infinitamente perfeito, justo e misericordioso, mesmo tendo ordenado e aprovado tais atrocidades.

Agora analisemos: Supondo que esta história houvesse acontecido nos dias de hoje, e o ataque tivesse sido realizado por um exército muçulmano, que, sob ordens diretas de Allah, realizasse um massacre semelhante contra um país cristão, destruindo várias cidades e exterminando um povo inteiro, incluindo mulheres e crianças, qual seria a reação do Ocidente Cristão? Evidentemente o mundo ficaria chocado. Os soldados Islâmicos seriam chamados de “terroristas”, e com total razão.

Podemos citar o ataque do “11 de setembro” às torres gêmeas, realizado por terroristas muçulmanos. Tais crueldades são tão condenáveis e injustificáveis como os massacres relatados na Bíblia.

Porém, como tais massacres bíblicos foram realizados pelo “povo de Deus”, em “nome de Deus”, a visão é outra, tudo torna-se justificado, e os inocentes que tiveram seu sangue derramado são chamados de “inimigos” do povo de Deus. Assim, Moisés e seus soldados não poderiam ser chamados de “terroristas”, porque mataram em nome de “Jeová”, porém os terroristas islâmicos sim, pois matam em nome de “Allah”! Hipocrisia e absurdo total! Qualquer fundamentalismo é condenável, seja ele Islâmico, cristão ou pertencentes a qualquer outra denominação. Não se deve matar em nome de nenhum Deus, nem Allah, nem Jeovah, ou qualquer outro. Nenhum “livro sagrado” pode justificar tais absurdos, nem o Alcorão nem a Bíblia.

Mas o que leva uma pessoa a ficar “cega” em nome de uma “verdade” a tal ponto de perder o “bom-senso”, podendo vir a cometer ou até mesmo apoiar tais barbáries injustificáveis? Quais ferramentas são utilizadas para influenciar psicologicamente massas de pessoas, tirando-lhes a capacidade discernimento e a razão? A resposta é: “O medo!”

Na época de Moisés, era necessário impor a Lei de uma forma severa, pois o mundo era um lugar extremamente violento e sem leis. Então somente uma autoridade legitimada diretamente pelo próprio “Deus” conseguiria manter um povo violento unido, através do temor  da “Ira Divina”. Este medo era a única força capaz de controlar as pessoas da época, que temiam as “maldições terríveis” que cairiam sobre elas, caso desobedecessem “A palavra de Deus”.

 

Naquela época não havia nenhum conhecimento científico para explicar as catástrofes que acontecem de forma natural, como enchentes, secas, terremotos, pragas, doenças, etc. Então as pessoas associavam qualquer evento natural a uma “punição divina”. Este temor era então convenientemente utilizado como forma de controle pelos líderes políticos que detinham sobre o povo o poder total e inquestionável, pois era “legitimado” pelo próprio Deus.

 

Além disso, cada líder procurava demonstrar que o “seu Deus” era mais forte, mais poderoso e mais cruel do que o Deus do povo vizinho. As vitórias em batalhas eram um sinal evidente de qual “Deus” seria superior. Assim, ao massacrar um inimigo, o povo ficava mais confiante, obediente e completamente submisso ao seu líder, que era, convenientemente, o “representante direto” deste Deus.

O povo de Israel foi então o povo “escolhido” por Deus. Portanto, as pessoas que tivessem tido o azar de nascer em uma nação vizinha e que possuíssem crenças religiosas diferentes seriam consideradas “inimigas de Deus” e poderiam ser massacradas sem nenhum problema de consciência, como a própria Bíblia menciona, incluindo mulheres, crianças e animais. Esta “autoridade Divina” dava aos governantes um poder inquestionável.

Porém, tal poder era utilizado para atingir também outros objetivos nada dignos, como a conquista de terras e bens de outros povos sob a justificativa de que tais povos “adoravam outros deuses” e, portanto, mereciam ser esmagados e, convenientemente, tinham também todos os seus bens roubados. Foi exatamente isto o que aconteceu com o massacre dos Midianitas.

 

“O fanatismo é a única forma de força de vontade que pode ser incutida nos  fracos e nos tímidos.” (Friedrich Nietzsche)

Incrivelmente, o medo é uma ferramenta tão eficiente de controle das pessoas que é explorado até hoje, e com muito sucesso. Atualmente, a maioria das religiões viraram grandes negócios que movimentam milhões e exploram, com maestria e eloquência impecável, o “temor” que seus fiéis têm de afrontar a “palavra de Deus”, uma vez que este Deus é muito cruel e vingativo.

 

A estratégia é exatamente a mesma aplicada há milhares de anos atrás. O medo de “perder a salvação” ou sofrer retaliações de um Deus opressor faz com que as pessoas deixem de utilizar o raciocínio crítico e questionem conceitos que, para quem consegue observar com imparcialidade e discernimento , são obviamente incoerentes e até mesmo absurdos! Os fiéis, que não devem questionar nada, não percebem o quanto estão sendo manipulados mentalmente, emocionalmente e, muitas vezes, financeiramente.

Felizmente há um antídoto para a ignorância que se chama conhecimento! No mundo moderno, as descobertas científicas vão aos poucos explicando e principalmente desmistificando as Leis da natureza. Telescópios avançados nos mostram a imensidão impressionante do Universo, e que não somos o centro dele. Pelo contrário, vivemos em um minúsculo ponto localizado na periferia de nossa galáxia (via láctea) que contém bilhões de estrelas, e no universo existem bilhões de galáxias, cada uma delas contendo também bilhões de outras estrelas.

Esta visão da grandeza do Universo nos dá uma concepção diferente do Criador, completamente diferente da visão antropomórfica de Deus como sendo um "homem velho de longas barbas brancas", que ficaria o tempo todo ocupado em punir os seres humanos e impor sua autoridade através do medo e da crueldade. A inteligência Criadora Universal (Deus) está em um patamar infinitamente superior a esta visão antropomórfica criada pelos próprios seres humanos.

Portanto, não são as religiões que devem ser combatidas, mas sim a ignorância e a falta de informação, despertando nas pessoas o senso crítico e a capacidade de raciocínio lógico para, desta forma,  combater o fundamentalismo e o fanatismo, seja ele em qual religião for, que tantos malefícios trouxeram e continuam trazendo à humanidade.

"Não acredite em nada apenas por ter ouvido. Não acredite nas tradições apenas por terem sido transmitidas através de inúmeras gerações. Não acredite em nada apenas porque é dito e pregado por muitos. Não acredite em nada apenas porque está escrito em livros religiosos. Não acredite em nada apenas baseado na autoridade de um mestre ou sábio. Mas depois de muita observação e análise, quando chegar à conclusão de que algo é razoável, e que conduz à felicidade e ao benefício seu e de todos, então aceite, e viva à altura do ensinamento." - Buda, citação no livro "O Despertar do Buda Interior" (Lama Surya Das )

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