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    Sistema Evolutivo x Sistema Punitivo

“Assim não é da vontade de vosso Pai que está nos céus, que pereça um só destes pequeninos.(Mateus 18:10-14)

Independentemente das diferenças em termos de filosofias e crenças, as Doutrinas Religiosas têm uma coisa em comum: Todas defendem que os seres humanos estão na Terra por um objetivo maior, um objetivo espiritual. As religiões baseadas na interpretação literal da Bíblia definem este objetivo como “salvação da alma”. O Espiritismo e as doutrinas reencarnacionistas em geral definem este objetivo como “evolução do espírito”.

Porém, em ambos os conceitos, é possível comparar a Terra a uma grande escola, onde estamos temporariamente para aprender com nossos erros e acertos, em busca do grande objetivo espiritual, ainda que não tenhamos disso consciência e, neste processo de aprendizado, seremos avaliados com base naquilo que fizermos de bom ou de mal através de nossos pensamentos, palavras e atos.

As divergências começam a partir do momento em que se discute qual o destino de cada um, após este curto ciclo chamado “vida”. Analisemos então os dois diferentes “Sistemas de avaliação” defendidos por cada uma das doutrinas, para concluirmos qual deles é mais compatível com a ideia da Perfeição Divina.

O primeiro deles, ao qual chamaremos simbolicamente de “sistema Punitivo”, representa a doutrina das penas eternas, defendido pelas igrejas Cristãs tradicionais; e o segundo, ao qual chamaremos simbolicamente de “Sistema Evolutivo”, representa a doutrina das vidas sucessivas. Em nossa analogia, descreveremos duas escolas fictícias, cada uma delas utilizando um dos sistemas mencionados:

Primeira escola:  Esta escola aplica aos alunos aquele que chamamos de “sistema Punitivo”. Neste sistema, cada aluno terá um ano inteiro para se preparar e, ao final do mesmo, passará por uma avaliação geral, que definirá se o mesmo será ou não aprovado. Em caso de aprovação, o aluno será levado a uma classe superior, para onde também irão todos os melhores alunos que forem aprovados, onde ficarão por toda a eternidade.

Em caso de reprovação, o aluno será isolado, juntamente com os demais alunos que também forem reprovados, e todos ficarão, por toda a eternidade, pagando e sofrendo pelo fato de não terem sido aprovados naquele ano letivo.

A justificativa da inflexibilidade para com os reprovados é de que os mesmos tiveram o ano letivo inteiro para se conscientizarem da importância de seus estudos e para conseguirem sua aprovação, portanto, em caso de reprovação, merecem, como punição, sofrer por toda a eternidade. Esta é a razão do termo “Punitivo”: Seu foco é a punição. Jamais será concedida uma nova chance de recuperação.

Porém, um detalhe importante: Os alunos que não estudaram o ano inteiro e certamente não teriam condições de atingirem a aprovação, caso se arrependam antes da avaliação final, serão automaticamente “perdoados” e irão para a classe especial, juntamente com os alunos que foram aprovados, não sendo necessário que façam nenhuma recuperação e nenhuma prova adicional. O simples fato de arrependerem-se os colocará ao lado dos melhores alunos que, por sua vez, conquistaram tal direito por merecimento próprio.

E desta forma, todos os alunos que forem para a classe superior, tanto aqueles que conquistaram sua aprovação com merecimento próprio quanto aqueles que a conquistaram apenas pelo arrependimento, não necessitarão mais se aperfeiçoar e evoluir. Eles apenas desfrutarão, por toda a eternidade, da recompensa por terem conseguido a aprovação em um único ano letivo.

 

Segunda escola: Esta escola utiliza o que chamamos de “Sistema Evolutivo”. Neste sistema, ao final de um ano letivo, os alunos passarão por uma espécie de triagem. Aqueles que tiverem tido um bom desempenho darão continuidade a seus estudos no ano seguinte, em uma classe mais avançada, onde poderão aprender matérias novas e mais complexas, e assim sucessivamente, ao longo dos anos, irão acumulando cada vez mais conhecimentos, até que um dia não necessitarão mais estudar naquela escola, continuando, porém, seus estudos em escolas mais avançadas, onde jamais deixarão de evoluir.

Os alunos que não tiveram um bom desempenho terão uma nova chance: Repetirão o ano, tendo que estudar novamente, durante todo o ano seguinte, as mesmas matérias que já haviam estudado no ano anterior, para que possam então conseguir um desempenho melhor. Caso mesmo assim não consigam um bom desempenho, repetirão novamente, e assim sucessivamente, quantas vezes forem necessárias, até que um dia finalmente consigam atingir o nível necessário para que possam passar a uma classe superior e, desta forma, continuarem seu curso até formarem-se na escola.

É importante considerar que, nesta escola, nenhum aluno conseguirá a aprovação sem o devido merecimento. Ao contrário da primeira escola, não há a possibilidade de um aluno conseguir a aprovação simplesmente porque “arrependeu-se” de não ter se dedicado aos estudos. Por outro lado, todos os alunos sempre terão novas chances de conseguirem sua aprovação. 

Comparação entre os dois sistemas

Na analogia apresentada, fica evidente a grande desigualdade entre os dois sistemas: Um deles que prioriza a evolução do aluno, dando-lhe inúmeras chances de evoluir e superar seus erros, e outro que prioriza a punição do aluno, não lhe oferecendo absolutamente nenhuma chance em caso de reprovação. Sem contar o absurdo de dar ao aluno que não se esforçou em seu aprimoramento, e não teria condições de passar na “avaliação final”, a possibilidade de “arrepender-se” e, então, mesmo sem ter qualquer merecimento, ir para uma classe “superior”, com outros alunos que conquistaram este privilégio por merecimento, o que seria uma enorme injustiça em relação àqueles que realmente se dedicaram e conquistaram sua aprovação por merecimento.

 

Após a apresentação das duas escolas e de seus respectivos sistemas de avaliação, vamos aprofundar nosso raciocínio respondendo às perguntas abaixo:

 

1.Se você tivesse que escolher entre uma das duas escolas para matricular seu filho,  por qual optaria?

Bem, se a sua resposta for totalmente sincera e livre de dogmas e influências religiosas, posso dizer, com absoluta certeza, que matricularia seu filho na segunda escola, que aplica o Sistema Evolutivo e jamais, em hipótese alguma, permitira que seu filho frequentasse a primeira escola, que aplica o Sistema Punitivo.

E a razão é bem simples: Ninguém aceitaria ver o próprio filho sofrendo eternamente, por pior que fossem os erros que o mesmo tivesse cometido. O sistema “punitivo” aplicado pela primeira escola de nossa analogia utiliza, inquestionavelmente, um critério cruel, desumano, desproporcional e, principalmente, injusto.

Se o Sistema “punitivo” apresentado na analogia fosse perfeito e justo, com certeza seria aplicado por todas as escolas da Terra, mas felizmente não vemos nenhuma escola condenando os alunos que foram reprovados, deixando de dar-lhes novas chances de recuperação.

 

2.Seria possível que Deus, a infinita inteligência, aplicasse um “Sistema de avaliação” inferior ao sistema terrestre?

 

Evidentemente que não! Pelo contrário, as Leis Divinas com certeza são infinitamente superiores aos padrões terrestres, e não inferiores. Ora, analisemos: Se aqui na Terra, onde ainda estamos tão distantes da perfeição, jamais seria aceitável um critério tão desumano e injusto, como seria possível supormos que um Deus, a quem se atribui a Suprema Perfeição e a Suprema Sabedoria, seria capaz de aplica-lo a seus filhos?

Na verdade, a Terra pode ser comparada a uma grande escola e a vida de cada pessoa, em relação à eternidade, representa um período de tempo extremamente curto, assim como o período de um ano letivo o é, comparado ao período de uma vida.

Se, ao final deste período tão curto, ou seja, após esta vida, fossemos “julgados” e aqueles que fossem considerados “reprovados” fossem condenados ao “fogo do inferno” ou a qualquer sofrimento eterno, sem uma nova chance de recuperação, então Deus estaria simplesmente aplicando o mesmo critério cruel anteriormente apresentado, que nenhum de nós seria capaz de aplicar aos nossos filhos.

Comparação da eficiência dos sistemas

Além de o sistema “Punitivo” ser completamente injusto, podemos comprovar  como sua eficiência também seria muito inferior.

Imaginemos uma sala de aula com 100 alunos e, ao final do período letivo, tivéssemos 60 alunos reprovados. No Sistema Evolutivo, estes alunos iriam repetir o ano e, ao final do segundo período, seriam reavaliados. Nesta nova avaliação alguns seriam reprovados novamente, porém outros conseguiriam, desta vez, a aprovação. Seria totalmente razoável então imaginar que, dos 60 alunos que repetiriam de ano, 40 deles conseguiriam a aprovação nesta nova oportunidade. Portanto, daqueles 100 alunos iniciais, apenas 20 teriam que repetir o ano pela terceira vez.

Ao final do terceiro ano, é possível que todos os 20 finalmente conseguissem a aprovação, ou alguns ainda necessitassem de mais uma oportunidade. O fato é que, no Sistema Evolutivo, todos os alunos conseguiriam um dia a aprovação! A eficiência do sistema é de 100%, ao contrário do sistema “punitivo”, cuja eficiência ficaria limitada ao numero de alunos aprovados no primeiro, e único, período letivo.

Parábola da ovelha perdida

Analisando a passagem Bíblica da “ovelha perdida”, observamos nela o desejo de Deus de que nenhuma de suas ovelhas se extravie, confirmando ainda mais a ilogicidade de um sistema punitivo.

“Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se extraviar, não deixa as noventa e nove e vai aos montes procurar a que se extraviou? Se acontecer achá-la, em verdade vos digo que se regozija mais por causa desta, do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. Assim não é da vontade de vosso Pai que está nos céus, que pereça um só destes pequeninos."(Mateus 18:10-14)

Pensemos logicamente: Se não é da vontade Divina que “nenhum” de seus filhos pereça, como poderia então Deus criar um sistema no qual, como já vimos, tantos se perderiam, provavelmente a grande maioria? Qual dos dois sistemas, apresentados neste capítulo, seria aplicado por um Deus infinitamente justo e misericordioso, que deseja, de acordo com a passagem bíblica acima, a salvação de todos os seus filhos? Qual deles é mais compatível com a Parábola da Ovelha perdida?

Em um suposto “dia do julgamento final”, com certeza milhões de “ovelhas perdidas” receberiam a condenação eterna pelos erros que cometeram em suas vidas. Porém quantos destes se redimiriam, se recebessem uma nova chance? Então por que haveria tal intolerância da parte de Deus? Se Ele aplicasse a punição eterna, estaria abandonando as ovelhas perdidas para ficar eternamente ao lado das ovelhas que não se extraviaram, ao contrário da parábola bíblica que acabamos de analisar, onde Ele faz exatamente o oposto, ou seja, jamais desiste das ovelhas extraviadas.

Imaginemos outra situação: Após o “grande Julgamento”, você foi salvo, e irá passar a eternidade no “paraíso”. Porém um ou mais de seus entes queridos foi condenado ao “inferno”. Pergunto-lhe: Será que você seria feliz sabendo seu amado filho, filha, esposo, esposa, pai ou mãe estaria sofrendo por toda a eternidade? Acharia justo tal punição? Evidentemente que não! Entãio como imaginar então que Deus, sendo infinitamente amoroso, pudesse permitir tal tormento eterno?

Os fundamentalistas tentam explicar dizendo que aqueles que estiverem no céu terão o “esquecimento” e não sofrerão pelos entes queridos que foram condenados.  Em primeiro lugar, tal “tentativa de justificação” em nada anula os argumentos que apontam para a ilogicidade das Penas Eternas, que continua sendo um critério absurdamente injusto e desproporcional.

Mas supondo que assim fosse, Deus estaria então destruindo justamente o que há de mais belo no ser humano, que é o sentimento de amor, os laços de afetividade que unem os seres humanos! Seria realmente um “Deus” muito malévolo e insensível, tanto com relação ao sofrimento dos que estariam eternamente condenados, quanto com relação ao sentimento dos que teriam sido “salvos”. Um Deus não infinitamente misericordioso, mas infinitamente insensível.

 

Construção do argumento lógico:

Premissa 1: Deus é infinitamente perfeito, portanto suas ações são igualmente infinitamente perfeitas.

Premissa 2: O Sistema de avaliação “Evolutivo”, aplicado nas escolas terrestres, que oferece ilimitadas chances de recuperação, é comprovadamente mais perfeito e eficiente que um suposto Sistema de avaliação “Punitivo” que não ofereceria nenhuma chance de recuperação aos que fossem reprovados.

Conclusão: Deus, sendo infinitamente perfeito, jamais poderia aplicar um Sistema de avaliação inferior aos Sistemas humanos. Portanto a teoria de que Deus pudesse aplicar um sistema “Punitivo” é completamente inconsistente.

Para refutarmos o argumento acima através da lógica, precisaríamos demonstrar que pelo menos uma das premissas é falsa, ou que as premissas não levam à conclusão, ou seja, precisaríamos realizar pelo menos uma das opções abaixo:

 

1. Demonstrar que a premissa 1 é falsa: Precisaríamos demonstrar que Deus não é um ser Perfeito e que poderia praticar ações imperfeitas, o que não é admissível, uma vez que a Perfeição Divina é uma premissa básica dentro de todas as doutrinas religiosas

2. Demonstrar que a premissa 2 é falsa:

Precisaríamos demonstrar que o Sistema “Evolutivo” seria inferior ao “Punitivo”, o que não é admissível, conforme foi  amplamente demonstrado neste capítulo, quando demonstramos que o Sistema “Evolutivo”, que é aplicado nas escolas terrestres, por  oferecer ilimitadas chances de recuperação aos reprovados, é muito superior ao Sistema “Punitivo”.

3. Demonstrar que as premissas não conduzem à conclusão: Não é possível questionar a inferência lógica entre as premissas pois, se Deus é infinitamente perfeito (Premissa 1) e o Sistema Evolutivo é comprovadamente superior ao Punitivo (premissa 2), podemos concluir inequivocamente que Deus, sendo perfeito, jamais poderia aplicar um Sistema imperfeito e inferior ao Sistema aplicado pelos seres humanos.

 

Portanto, o argumento acima pode ser considerado válido e consistente, pois suas premissas são verdadeiras e há uma inferência lógica entre as mesmas que levam à conclusão, demonstrando assim a ilogicidade em admitir que Deus pudesse aplicar um “Sistema Punitivo”, que corresponde às Penas eternas, que não oferecesse qualquer chance de recuperação.

Reencarnação: O Sistema mais justo

De tudo o que foi exposto, observamos que a Reencarnação, simbolicamente representada pelo “Sistema evolutivo” apresentado neste capítulo, apresenta realmente um critério mais justo e coerente, pois permite aos espíritos infinitas possibilidades de recuperação.

O Planeta Terra, pela ótica reencarnacionista, pode ser comparado a uma enorme escola, cujo objetivo é a evolução dos espíritos. Desta forma, cada vida pode ser comparada a um ano letivo. Assim como em qualquer escola, onde aos alunos que não obtiveram um bom desempenho é concedida uma nova oportunidade, para que os mesmos possam repetir o ano e passarem novamente pelos testes necessários e assim conquistarem sua aprovação através de seu próprio merecimento, a Infinita misericórdia Divina concede novas oportunidades a aqueles que erraram durante suas vidas, dando-lhes sempre uma nova chance de repararem seus erros.

Ao longo das vidas sucessivas, os espíritos vão progredindo lentamente, até que um dia atingirão um nível tal de evolução em que não mais precisarão renascer no Planeta Terra, seguindo, porém, sua jornada evolutiva nas muitas moradas celestiais existentes no Universo.

Somente assim Deus pode ser infinitamente justo e, ao mesmo tempo, infinitamente misericordioso!

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