O conceito da Reencarnação ao longo da História
"Não somos seres humanos numa jornada espiritual, mas seres espirituais numa jornada humana." (Pierre Teilhard de Chardin)
A possibilidade do retorno do espírito à matéria em outro corpo físico é um conceito milenar existente desde a mais remota antiguidade. A maioria dos povos antigos e os grandes sábios já tinham acesso a este conhecimento, embora sem a abordagem mais científica, que somente o Espiritismo viria a trazer a partir da segunda metade do século 19, quando então formalizou-se o nome “Reencarnação”.
O conceito do renascimento da alma pode ser encontrado não somente nos antigos textos Egípcios e nas milenares religiões orientais, como o Hinduísmo e o Budismo, mas também no ocidente, como base da filosofia dos maiores sábios gregos:
Pitágoras (570 – 495 AC), filósofo, matemático e líder religioso grego, era chamado por seus discípulos de “O grande mestre”. A ele é atribuída a invenção da palavra “filosofia”. Foi também o criador do famoso “Teorema de Pitágoras”. Para Pitágoras e seus seguidores, a Natureza é constituída de um sistema de relações e proporções matemáticas. Descobriu as 7 notas musicais e defendia que a música obedecia leis de harmonia matemática e que também o universo se submetia a estas leis. Defendia a existência da Reencarnação como um processo natural que obedece a uma ordem cósmica cíclica para expiação (penitência ou castigo) de uma culpa original
Sócrates (469 A.C. – 399 A.C.), outro filósofo grego, afirmava que as almas, após uma passagem pelo Hades, reino dos mortos, eram novamente levadas ao universo dos seres vivos, no qual experimentavam inúmeras existências. Assim como Jesus, Sócrates não deixou registros escritos de suas idéias, e as mesmas foram disseminadas por seu principal discípulo: Platão. Platão também defendia que a alma é uma essência autônoma pré-existente ao corpo humano no qual reside e é capaz de se perpetuar além da existência atual, mesmo sem a existência do corpo físico.
Dentro do Judaísmo, também encontramos a Reencarnação nos estudos da Cabala. No Judaísmo primitivo, o conceito do renascimento era algo muito comum e podemos inclusive constatar isto na própria Bíblia, como analisamos no capítulo “A Reencarnação na Bíblia”. Naquela época não havia a rejeição ou combate ao conceito do renascimento da alma, como vemos hoje por parte das religiões cristãs tradicionais.
O fato é que a idéia do retorno do espírito à matéria era para o povo antigo algo lógico e natural, porém naquela época ainda se tinha conhecimentos muitos vagos sobre como este retorno poderia ocorrer. E realmente, na época de Jesus seria completamente impossível explicar conceitos mais complexos, que dependiam de um maior desenvolvimento da humanidade.
Naquele tempo sequer se sabia que a matéria era constituída de partículas minúsculas chamada “átomos”, nada se conhecia a respeito de eletricidade e do magnetismo e tantos outros conhecimentos que somente a ciência viria trazer. Como então seria possível falar àquele povo detalhadamente a respeito de uma matéria mais sutil e invisível, ou seja, falar sobre o Espírito e a capacidade do mesmo em se ligar à matéria e a ela retornar em sucessivas vidas, que até mesmo hoje, mesmo com todos os recursos científicos, muitos ainda rejeitam?
Combate da Igreja à reencarnação
A Reencarnação começou a ser combatida no Ocidente em 553 D.C., quando foi proibida pela Igreja Católica no concílio de Constantinopla, atual Istambul, Turquia. Neste concílio, foram condenadas as idéias de Orígenes de Alexandria, um importante filósofo e teólogo da igreja grega, que admitia preexistência das almas humanas: “cada alma... vem a este mundo fortificada pelas fraquezas ou vitórias da vida anterior. Seu lugar neste mundo, como um vaso escolhido para honrar ou desonrar, é determinado pelos seus méritos ou deméritos. Seu trabalho neste mundo determina a sua vida num mundo futuro”.
Na época, muitos cristãos aceitavam a reencarnação e seguiam os ensinamentos de Orígenes, o que obviamente não era visto com bons olhos pela cúpula da igreja. Analisemos: Observamos, desde a antiguidade, o absoluto controle que as religiões exerciam sobre os “fiéis” através do medo. Aqueles que não seguissem estritamente os preceitos impostos poderiam ser considerados “hereges”, excomungados ou até mesmo executados na fogueira! Além disso, o maior temor daqueles que não ousavam afrontar a Igreja e, consequentemente, a “Ira” Divina, era ser condenado ao “fogo do inferno”.
Contudo, aqueles que acreditam na Reencarnação não podem ser controlados ou manipulados através do medo, pois não acreditam em Punições eternas nem em um Deus tirano e vingativo. Desta forma, esta doutrina representava, como representa ainda hoje, para as grandes instituições religiosas mundiais, que se transformaram em grandes impérios financeiros, uma ameaça de perda de controle sobre seus fiéis.
No entanto, mesmo com a proibição da Igreja, o conceito das vidas sucessivas não pôde ser suprimido e ressurgiu com força total no Ocidente através do Espiritismo.
Existem algumas diferenças entre a visão Espírita, Hinduísta e Budista sobre a Reencarnação. Neste trabalho, utilizaremos a ótica do Espiritismo que, em minha concepção, possui uma visão mais científica e mais abrangente de todas as questões que envolvem a trajetória do Espírito, desde o momento de seu desligamento do corpo material através da morte corpo físico, até sua estadia no plano espiritual e seu consequente retorno ao plano material em outro corpo físico.
O Espiritismo, que é considerado ao mesmo tempo uma religião, uma filosofia e uma ciência, traz, em sua codificação, uma impressionante quantidade de informações a respeito da espiritualidade, como jamais se tinha visto antes em qualquer outra filosofia ou literatura. "O Livro dos Espíritos", primeiro livro da codificação espírita, lançado pelo professor Hyppollite Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) em 18 de abril de 1857, continua sendo atual e consistente até os dias de hoje e as mais modernas descobertas científicas têm consolidado seus ensinamentos.
Como vimos, todas as tentativas ao longo da história de ocultar e combater a Reencarnação devido a razões políticas e religiosas não foram suficientes, e seu conceito continua cada vez mais forte, devido à sua racionalidade que traz as respostas para as questões que as Religiões tradicionais, baseadas no conceito da existência de uma única vida, são incapazes de responder.