Amanda Oliveira Alquati
No dia 6 de Abril de 2014, um domingo, a cidade de Sorocaba acordou em choque. 6 jovens morreram atropelados no Km 107,5 da Rodovia Raposo Tavares, quando retornavam de uma festa em uma chácara e esperavam o ônibus. Entre eles Amanda Oliveira Alquati.
Amanda tinha 17 anos e era uma garota muito querida por todos. Ela tinha um grupo muito grande de amigos, todos jovens como ela, que costumavam passear juntos e reunir-se em sua casa. Os pais de Amanda, Regina e Irineu, sempre acolhiam a todos com muito carinho em sua residência, e frequentemente vários deles acabavam dormindo lá em colchões improvisados pela casa.
No dia anterior ao acidente, um sábado, Amanda passou na companhia de uma de suas melhores amigas, Brenda, que era espírita. Regina relata que elas estavam no quarto de Amanda, quando ela entrou e perguntou à Brenda se ela iria à festa com a turma. Brenda lhe respondeu que não iria, pois estava com um “mau pressentimento”. Regina ainda brincou, dizendo que ela “estava parecendo velha”, e ela falou novamente do pressentimento. Brenda acabou não indo à festa
Naquele sábado os jovens reuniram-se pela ultima vez, felizes, pois iriam a uma festa em uma chácara. Os pais de Amanda, extremamente zelosos com ela, sempre a levavam e buscavam todas as vezes em que ela saía com os amigos. Porém, daquela vez, ela solicitou autorização para ir com o seu namorado Iven e os amigos de ônibus. Era a primeira vez em que isto acontecia.
No retorno da festa, por volta de 6 Horas da manhã, Amanda, o namorado e os amigos estavam no acostamento da Rodovia Raposo Tavares aguardando o ônibus. Um ônibus chegou, Amanda e o namorado chegaram a entrar no ônibus mas, quando viram que não seria possível todos subirem no ônibus devido ao mesmo estar lotado, decidiu descer e esperar o próximo ônibus para ficar com seus amigos.
O irmão de Amanda, Diego, que havia ido à mesma festa com o carro do pai, chegou a passar pelo ponto de ônibus e até pensou em parar e dar carona à Amanda. Porém todos sabem que ela não teria aceito e teria ficado com os amigos. Então um veículo que trafegava pela rodovia, cujo condutor estava sob efeito do álcool, perdeu o controle e atropelou os 12 jovens que se encontravam no acostamento.
No dia 7/5/2016, em uma sessão de psicografia especial do dia das mães em uma casa espírita localizada em Sorocaba-SP, na qual eu estava presente, Regina recebeu uma mensagem de Amanda:
“Querida mãe Regina e meu pai Irineu. Neste momento ainda difícil escrever diretamente a vocês era o que eu mais queria. Sempre estou presente no encontro de vocês, não só eu, mas nós seis que deixamos o corpo no acidente da Raposo Tavares(1). Eu, Léo, Guilherme, Giovanni , Lucas e Evelyn estamos todos aqui hoje, transmitindo nosso abraço e nosso recado. Mãe, pai, eu não sei explicar a vocês, mas naquela noite, antes de ir à festa com o Iven(2), eu senti algo diferente em meu coração, parecia que não voltaria mais para casa. Não sei explicar esse sentimento, mas é como se fosse uma despedida. Senti um forte aperto em meu peito. Lembrei de quando o Diego(3) sofreu o acidente na cachoeira e foi um susto muito grande. Mas daí eu rezei, e fomos para a festa.
Mesmo na festa, a sensação que eu tinha era que estava fora de mim, estava flutuando. Preferi não falar nada, quando então, voltava para casa, na Raposo , senti algo como se dormisse profundamente e bem longe ouvia os gritos de desespero, mas não me contive e entrei num sono profundo, tudo muito leve. Quando acordei, a primeira pergunta foi onde estava, que eu não estava em casa. Era um sonho? Pedia para acordar desse sonho. Fomos recebidos em uma colônia chamada “Nosso Lar” pelo médico e amigo André Luis.
Pediu que nos acalmássemos, que logo iríamos entender. Fomos levados a um lugar onde a paz tomava conta de nós, e ninguém precisou dizer nada. Apenas nos olhamos e entendemos. Logo chegou André Luis, nos orientando que seríamos preparados para visitar nossas famílias.
Não vou dizer que não senti aquela dor da saudade. Isso foi inevitável. Mas recebemos muito consolo. Não sentimos absolutamente nada com o acidente na Raposo que atropelou nós seis. Hoje temos a compreensão que nós vivemos no tempo de Jesus e Maria e ficávamos sempre só ao lado de Maria, mãe de Jesus. Por isso seis, olhe o ponteiro do relógio: às seis é a hora da Ave Maria(4).
Nossa missão deste outro lado é grande. Eu irei iniciar o meu curso de medicina espiritual, pois sempre foi o que eu queria fazer(5). Obrigado pai, obrigado mãe, por tudo o que fizeram por mim, e acreditem que sou a mesma Amanda, feliz pois nossa tarefa deste lado é muito linda. Sei que a nossa formação no Catolicismo(6) muitas vezes faz com que fiquemos com algumas dúvidas, mas acredite mãe: A morte não é o fim, é o início de uma nova vida, nas moradas do Pai Celestial!
Todos nós sabemos que nosso irmão Fábio(7) foi só o instrumento para que nós seis deixássemos o corpo, mas ele não tem culpa, ao contrário, nós vibramos muito amor por ele. Meus queridos, nós somos em muitos nesta noite, mas não podemos todos escrever. Deixamos aqui um feliz dia das mães a todas nossas mães. Precisamos seguir, eu amo vocês. Beijo a todos. Amanda.”
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Acidente ocorrido no Km 107,9 da Rodovia Raposo Tavares, região de Sorocaba, no dia 6/4/2014, onde doze jovens foram atropelados. Amanda estava entre os 6 que desencarnaram neste acidente
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Iven Matheus Silva, namorado de Amanda, um dos atropelados no acidente. Teve ferimentos graves nas pernas mas recuperou-se completamente
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Diego é o nome do irmão de Amanda, que alguns meses antes do atropelamento havia sofrido um grave acidente em uma cachoeira na cidade de Votorantim, ao cair de uma altura de 10 metros, ficando 20 dias em estado gravíssimo e tendo inclusive seu caso sido considerado irreversível pelos médicos, vindo no entanto a recuperar-se completamente. Após sair do coma, nos dias em que esteve no hospital Diego relatava a presença no quarto de seu falecido tio Aguinaldo, a quem desde pequeno chamava de “dô”. Ele dizia que seu tio falava para ele “ir embora para casa”.
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O acidente que vitimou os 6 jovens aconteceu no dia 6, às 6 horas da manhã.
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Amanda tinha o objetivo de fazer medicina. Após o término do ensino médio, ela havia iniciado o curso técnico de enfermagem. Na semana de seu desencarne, ela iria começar a trabalhar na parte administrativa da Santa Casa de Sorocaba
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A família de Amanda é católica
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Fábio é o nome do condutor do carro atropelou os 6 jovens
Abaixo uma outra mensagem enviada por Amanda ao seu namorado Iven
“Esperei muito por este momento, ansiosa aprendi a esperar. Logo eu que sempre fui muito ansiosa. Agora aprendi tanta coisa, algumas são muito difíceis de realizar, mas eu fico tentando até conseguir. Tive que aprender sobre algumas coisas que aqui são muito diferentes. Aqui nós aprendemos que ciúmes faz parte só dos encarnados. Aqui nós fazemos muitos exercícios e muita leitura e conversas sobre isso, pois quando chegamos trazemos estes sentimentos com a gente. É muito difícil: É muito complicado e demora muito para que a gente consiga aceitar que nós não estamos mais ao lado de quem amamos e que outra pessoa tem a missão de completar, de viver com essa pessoa, mas estou aprendendo, estou entendendo tudo isso, porisso quero você feliz. Demore o tempo que demorar, pode ser de qualquer maneira, mas quero a sua felicidade, quero o seu bem sempre. Estou falando tudo isso pois sei que para quem fica é complicado, e muitos dirão, muitos te julgarão, mas entre nós nada será julgado, você precisa ser feliz e fazer tudo o que você mais gosta, viver suas aventuras, curtir as coisas lindas da vida, você precisa viver, meu amor!
Os nossos momentos foram fantásticos, os nossos encontros, nossos gostos, nossas brincadeiras, tudo , foi tudo intenso e da melhor maneira e como você diz: Nossos momentos ficarão para sempre. Não posso deixar de dizer que você foi e é meu grande amor, nada pode apagar tudo o que você me fez sentir, todos os arrepios, todos os sorrisos, todo aquele olhar brilhante que você me deu, e a minha alegria, a minha emoção quando você me pediu em namoro. Você se ajoelhou e aquele olhar, aquele seu sorriso e o calor de suas mãos nas minhas foi perfeito. No dia do acidente, quando tudo aconteceu, eu senti um arrepio, não senti dor, foi rápido pois os anjos estavam lá para nos socorrer. Mas quando acordei, quando eu consegui compreender o que havia acontecido, me deu um desespero, porque eu precisava saber de você, precisava te ver e não pude. Eu não podia correr o risco de ver tudo e talvez dificultasse a minha passagem, então irmãos me falaram um pouco de você e eu fiz eles me prometerem que durante toda a sua recuperação eles enviassem anjos irmãos para te cuidarem, irmãos que te ajudassem, amparassem sua recuperação. Foi difícil me conformar que nós estávamos separados. Eu imaginava que era para sempre, mas hoje entendo que esse sempre não existe, quando achamos que podemos nos separar por estar em outro plano. Nós nunca estamos separados, estaremos sim, sempre juntos.
Aqui onde estou, temos irmãos que também passaram por isso, muitos. Muitos deles tiveram que deixar um grande amor, muitos mesmo. E sabe de uma coisa? A maioria deles também é assim como a gente: Perfeitos um para o outro. Eu tenho um irmão amigo aqui que me ajuda muito, o nome dele é Allan e ele deixou o grande amor dele, que também era Amanda, e ele passou por tudo isso, ele sofreu até compreender. Ainda bem que para nós existem tantos ensinamentos. Porque ficar sem nossa família e sem a pessoa que mais amamos seria impossível, mas para Deus não existe impossível. O que falta para nós encarnados é entendimento e graças a Deus nós temos e buscamos muito isso.
Meu amor, tudo o que eu disse aqui não significa que eu não te amo, que eu te esqueci ou vou esquecer. Isso não vai acontecer, pois tudo o que fez bem e todos que amamos ficarão para a eternidade com a gente. Quero que dê um abraço na Maria(1) por mim, e diga a ela que eu também amo muito ela, que eu adorava quando ela falava de mim como princesa(2) e ela faz parte destas pessoas que eu amo e me fizeram e fazem tão bem. Eu te amo muito e agora estou sorrindo. Aqui meu sorriso é mais lindo, mais feliz, pois você vai receber mais uma partezinha de mim. Que o Pai e os Anjos te abençoem sempre. Amanda”
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Maria é o nome da mãe de Iven
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“princesa” era a forma carinhosa como Maria costumava chamar Amanda