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Ilogicidade das Penas Eternas
Interrogai o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação perpétua, motivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus”. (O Livro dos espíritos)

Neste capítulo analisaremos a teoria das “Penas eternas”, defendida pelas religiões Cristãs tradicionais, que apregoam a ocorrência futura de um “Julgamento Final”, também chamado de “Dia do Juízo Final”, onde todos os seres humanos seriam “julgados” e, enquanto alguns seriam recompensados com a “bem-aventurança celestial”, outros seriam punidos com o “tormento eterno”.


Porém, apresento o seguinte questionamento: Seria possível conciliar esta teoria com a visão de um Deus infinitamente misericordioso e infinitamente amoroso? Para podermos chegar a uma conclusão rigorosamente lógica, vamos primeiramente responder algumas perguntas:

 

1. Deus é perfeito?

 

Para efeito das argumentações contidas neste trabalho, assumimos que a “Inteligência Criadora Universal”, a quem podemos chamar de “Deus”, é infinitamente perfeita. Assim também é a visão das religiões Cristãs, baseadas na Bíblia, onde encontramos a passagem “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mateus 5:48).

 

2. Deus possui todas as virtudes em grau infinito?

A resposta a esta pergunta é uma dedução lógica da pergunta 1: Ora, se Deus é perfeito, consequentemente deduzimos que ele possui todas as virtudes em grau infinito, ou seja, sem nenhum tipo de falhas ou limitações, do contrário não poderia absolutamente ser considerado “perfeito”.

 

3. O perdão Divino é infinito?

A resposta a esta pergunta é uma dedução lógica da pergunta 2: Se Deus possui todas as virtudes em grau infinito, o perdão, sendo uma de suas virtudes, logicamente também é infinito.

 

Mas o que que significa dizer que algo é “infinito”? Este conceito nem sempre é bem interpretado ou diria “visualizado” por muitas pessoas. Vamos entender bem: “infinito” é realmente algo que . "jamais tem fim". Se dissermos que o espaço é infinito, mas em um determinado momento encontrarmos nele qualquer tipo de limitação, não podemos mais dizer que ele é infinito. Se existe uma limitação, ele é finito.

 

Por outro lado, se dissermos que uma coisa é “infinitamente perfeita” e encontrarmos nela a mais minúscula e microscópica falha, já não poderemos afirmar que talcoisa é “infinitamente perfeita”. Poderíamos dizer neste caso que seria “quase perfeita”. Será que poderíamos então dizer que Deus é “quase perfeito”? Evidentemente que não.

Ora, quando afirmamos que o perdão de Deus é infinito, estamos afirmando que tal perdão jamais deixará de existir, em época alguma ou sob qualquer circunstância, ou seja, que Deus “jamais deixará de perdoar”. Se isto acontecesse, ainda que por milésimos de segundos, então Seu perdão não poderia mais ser considerado infinito!

 

Na própria Bíblia encontramos uma passagem na qual Jesus ensina que o perdão não deve ter limites: “Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete!” (Mateus 18:21,22).

 

O que Jesus queria dizer ao apresentar este número (70 vezes 7)? Será que ele queria dizer que deveríamos perdoar até um limite de 490 vezes, que é o resultado da multiplicação de 70 vezes 7, e depois não precisaríamos perdoar mais? Obviamente que não. Na verdade Jesus queria dizer que deveríamos perdoar indefinidamente, ou seja, infinitamente!

Ora, se Jesus recomenda que nós, simples seres humanos, que somos imperfeitos e falíveis, devemos praticar o perdão “infinitamente”, como poderia o próprio Deus, em toda sua perfeição, possuir limitações em uma de suas virtudes? Como poderia o nosso perdão ser infinito e o perdão Divino não? Ou seja, neste caso nós teríamos uma virtude que o próprio Deus não teria? Completamente ilógico!

Em outra passagem Bíblica encontramos um texto que expressa uma idéia contrária à punição eterna:

 “Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metidos em prisão. — Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pagado o último ceitil”. (Mateus, 5:25 e 26.).

O trecho acima é muito claro em dizer que, após condenado, alguém não sairá da prisão até “ter pagado o último ceitil (centavo)”, ou seja, tudo o que deve. Então, após ter sido pago tudo o que deve, o condenado será solto. Este raciocínio vai totalmente de encontro à idéia da punição eterna, onde o condenado jamais sairia da prisão, ou seja, jamais conseguiria “pagar o ultimo centavo”.

 

Condenar x perdoar

 

Se pesquisarmos as palavras com significado oposto a “perdoar”, encontraremos entre elas: condenar, punir, penalizar, castigar, sentenciar.

Em um suposto “Dia do Juízo Final”, enquanto alguns seriam recompensados com a “bem-aventurança celestial”, outros seriam punidos (condenados, penalizados, castigados, sentenciados) eternamente.

Mas se “condenar” é o oposto de “perdoar”, então podemos concluir que neste dia específico (Dia do Juízo Final), e ao longo de todo o resto da eternidade, o perdão Divino, para aqueles que fossem condenados, simplesmente “deixaria de existir" ! Ora, sendo assim, Deus teria um limite, uma falha em suas virtudes? Incoerente!

 

Como vimos no capítulo “Noções básicas de lógica”, a lei da “Não contradição” diz que algo não pode “ser” e “não ser” simultaneamente. É impossível “condenar eternamente” e “perdoar” ao mesmo tempo. O perdão divino não pode ser “finito” e “infinito”. Portanto, os conceitos de “perdão infinito” e “condenação eterna”, analisados ao rigor da lógica, são completa e absolutamente contraditórios e inconciliáveis.

 

Análise do argumento lógico

Premissa 1: Deus é Perfeito.

Premissa2: Sendo Deus Perfeito, todas as suas virtudes são infinitas.

Conclusão: Deus jamais poderia condenar eternamente, pois, ao fazê-lo, uma de suas virtudes, o perdão, deixaria de ser infinito e Ele não mais poderia ser considerado Perfeito.

Como vimos várias vezes ao longo deste trabalho, existe uma diferença radical entre “discordarmos de um argumento” e “refutarmos um argumento”. Os fundamentalistas, baseados na interpretação literal da Bíblia, obviamente discordam radicalmente deste argumento, porém não são capazes de refutá-lo, uma vez que, para refutarmos um argumento através da lógica, é necessário que demonstremos que pelo menos uma das premissas seja falsa ou então que não há uma inferência lógica entre as premissas que leve à conclusão apresentada.

 

Portanto, para refutarmos o argumento acima precisaríamos realizar pelo menos uma das três opções:

 

1. Demonstrar que a premissa 1 é falsa: Precisaríamos questionar a Perfeição Divina, o que obviamente é completamente incabível e inclusive vai de encontro à todas as Doutrinas religiosas que defendem a perfeição de Deus.

 

2. Demonstrar que a premissa 2 é falsa: Seria necessário demonstrar que, mesmo Deus sendo considerado perfeito, seria possível que sua virtudes não fossem infinitas. Porém isto é contraditório, pois o que é “perfeito” não tem qualquer espécie de falhas ou limitações.

 

3. Demonstrar que as premissas não conduzem à conclusão: Não há como contestar que a conclusão é derivada das premissas pois, se Afirmamos que Deus é perfeito (premissa 1), e que todas as suas virtudes são infinitas (premissa 2), concluímos inequivocamente que o seu perdão também é infinito. Sendo assim, se Deus condenasse eternamente, seu perdão simplesmente deixaria de existir, não sendo mais infinito.

 

Portanto, o argumento acima pode ser considerado válido e consistente, pois suas premissas são verdadeiras e há uma inferência lógica entre as mesmas que levam à conclusão,demonstrando assim a ilogicidade da teoria das Penas eternas.

 

Reencarnação = perdão infinito

 

Sob a ótica Reencarnacionista, não nos deparamos com qualquer tipo de contradição, pois a própria “Reencarnação” em si já representa uma mostra da infinita misericórdia Divina. Através dela, enxergamos a sabedoria de um Criador infinitamente amoroso, bondoso e misericordioso, que jamais condena, concedendo sempre seu eterno perdão através de inúmeras chances, tantas quantas forem necessárias, para que o espírito possa reconhecer seus erros, repará-los, e continuar sua evolução eterna.

Aliás, qual Pai ou mãe realmente amoroso não faria isso? Qual pai ou mãe desejaria que seu filho, por mais que o mesmo tivesse errado, sofresse uma punição eterna? Duvido que qualquer pessoa que passou pela experiência da paternidade ou da maternidade conseguisse ver seu filho sofrer eternamente, sem qualquer chance de redimir-se. Ora, se nós, que somos tão imperfeitos, sempre teremos espaço para o perdão em nossos corações, como imaginar que um Ser infinitamente perfeito e infinitamente amoroso não teria?

Imaginemos, após o “Dia do Juízo Final”, as pessoas que fossem eleitas por Deus para irem ao “céu”, porém tivessem vários de seus entes amados tais como filhos, pais, esposo ou esposa condenados à punição eterna. Como tais pessoas seriam felizes sabendo que as pessoas que ela mais amou em sua vida ficariam sofrendo eternamente, pois jamais seriam perdoados por Deus e jamais os veriam novamente? Se as pessoas que acreditam neste dogma pararem para pensar, e se imaginarem a si mesmas nesta situação, chegarão à conclusão de que a mesma seria desesperadora e, acima de tudo, injusta.

 

Alguns afirmam que Deus os “faria esquecer” de seus entes queridos para que não sofressem por ter um filho ou uma mãe “ardendo” para sempre no “fogo do inferno”. Mas, pensemos: Se assim fosse, tal “Deus” estaria anulando o sentimento mais puro, que é o amor e destruindo laços de sentimento e afeto em nome de uma punição absurda e cruel , que seria a punição eterna. Com todo o respeito aos que acreditam nesta triste teoria, não há absolutamente como encontrar nela qualquer traço de lógica ou racionalidade.

Por outro lado, através do estudo da Reencarnação, vemos uma situação completamente diferente. Não haverá “Juízo Final”, não haverá condenação. Cada um receberá rigorosamente “de acordo com suas obras”, mas de uma forma natural, e não por imposição de Deus. Após a perda do corpo físico, o espírito será automaticamente atraído para planos espirituais compatíveis com sua situação vibratória.

 

Aqueles que tiverem feito o bem e procuraram aperfeiçoar-se moralmente durante a vida, após a morte ficarão em uma situação melhor, sendo amparados nas chamadas “colônias espirituais”, onde poderão reencontrar seus entes queridos, enquanto aqueles que praticaram o mal e não cuidaram de seu aprimoramento espiritual ficarão por algum tempo em locais inferiores, que estão em sintonia com sua atual faixa vibratória, até que, através de seu Livre-arbítrio e desejo de evolução, sejam capazes de reconectarem-se a vibrações superiores. 

 

Porém os laços de amor jamais se perderão após a morte, e os espíritos em condições superiores sempre poderão ajudar seus entes amados que se se encontrarem em situação inferior, desde que, obviamente, estes aceitem tal ajuda e estejam preparados para recebê-la.

 

Após um tempo no plano espiritual, os espíritos voltarão a reencarnar, normalmente nas mesmas famílias, podendo no entanto os papéis ser invertidos: Um pai retornar como filho daquele que na reencarnação anterior foi seu filho, e vice-versa, para que cada um possa aperfeiçoar-se, reparar os erros cometidos, e continuar sua jornada evolutiva através do fortalecimento dos laços de amor. Percebemos assim a coerência das Leis divinas sábias e imutáveis: Livre-arbítrio, Causa e efeito, Reencarnação, Evolução eterna.

 

A literatura espírita é riquíssima em relatos, obtidos através de milhares de mensagens psicografadas, que falam da continuidade da vida após a morte, conforme abordaremos na Parte III deste trabalho (Evidências materiais e científicas), que comprovam que a vida realmente continua após a morte, e os laços de amor e amizade são eternos.

Desta forma, vemos como os conhecimentos a respeito da Reencarnação e da continuidade da vida do espírito são lógicos, coerentes, e compatíveis com a visão de um Deus infinitamente misericordioso e infinitamente amoroso, que jamais condenaria seus filhos a uma punição eterna.

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