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Ilogicidade do Pecado Original
"O universo possui uma ordem lógica, impossível de burlar. É improvável que se faça a colheita de algo que você não plantou”. ( Edna Frigato)

Em nossa primeira análise lógica, estudaremos as contradições contidas na principal teoria apresentada pelas igrejas cristãs tradicionais para explicar a causa dos sofrimentos e do mal existente no mundo: A teoria do “Pecado original”

Segundo tal crença, Adão e Eva haviam sido advertidos por Deus de que não deveriam comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. No entanto, iludida pela serpente, primeiramente Eva e depois Adão, comeram o fruto proibido, contrariando então a Deus que os expulsou do Jardim do Eden e transferiu tal pecado para todo o resto da humanidade.

 

Os defensores desta crença citam as seguintes passagens bíblicas para justifica-la:

 

  • “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram” (Rm 5.12).

  • "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23).

 

Desta forma, o “Pecado original” é a principal resposta das doutrinas cristãs tradicionais para explicar todo o mal que existe no mundo e, consequentemente, a causa dos sofrimentos dos seres humanos, que, segundo tais doutrinas, já “nascem em pecado”.

 

Na parte II deste trabalho, no capítulo “O perigo do fundamentalismo”, falamos sobre os riscos em interpretar um livro considerado como “sagrado” literalmente, aceitando os conceitos nele contidos somo “verdades absolutas”, sem analisa-los à luz da lógica e da razão, livre de quaisquer dogmas que poderiam afetar a imparcialidade de tal análise.

 

Para que possamos efetuar esta análise lógica, precisamos primeiramente abordar o conceito da palavra “Justiça”. Tal conceito é intuitivo e não há como questioná-lo. Todos nós temos noção do que é “justo” e do que é “injusto”. Inclusive a própria Bíblia apresenta um critério de Justiça ao afirmar que “A cada um será dado segundo suas obras”.(Romanos 2:6)

 

Portanto, podemos inequivocamente dizer que o conceito de Justiça está totalmente relacionado ao conceito do merecimento, ou seja, a aplicação de penas ou recompensas merecidas ou, simplesmente, “dar a cada um aquilo que por direito lhe pertence”. Portanto, é  impossível dizer que seria justo alguém receber algo que não é de seu merecimento

Uma vez esclarecido tal conceito, vamos responder a algumas perguntas para que possamos construir nosso argumento lógico:

1. Deus é justo?

Com certeza esta é uma pergunta à qual todas as doutrinas religiosas que defendem a existência de um Ser Criador infinitamente perfeito responderiam como sim! E de fato, atribuímos a Deus, a Suprema Inteligência criadora de todas as coisas, os atributos de perfeição em todas as virtudes, não sendo cabível imaginar que Deus poderia cometer injustiças, do contrário teríamos que considera-lo imperfeito.

 

2. Seria justo que alguém pagasse pelos erros cometidos por outra pessoa?

 

Obviamente a resposta a esta pergunta é não! O simples ato de  “punir alguém pelo erro alheio” vai diretamente contra o conceito mais elementar de justiça conforme vimos no início deste capítulo. Por exemplo, imaginemos uma pessoa que cometeu um assassinato e a polícia, incapaz de prendê-lo, leva seu filho para a prisão. Seria justo o filho pagar pelo crime do pai? Evidentemente que não.

Analisando as respostas às duas perguntas acima, chegamos então a uma   conclusão lógica bastante evidente e clara: Se Deus é justo, e não é justo que alguém seja punido ou pague por algo que não fez, Deus jamais poderia cometer tal injustiça!

Sendo assim, Deus jamais, em hipótese alguma, poderia fazer com que alguém pagasse pelos erros ou os chamados “pecados” de outra pessoa ou recebesse qualquer tipo de sofrimento sem o merecer. Caso assim o fizesse, estaria sendo injusto e, consequentemente, não mais poderia ser considerado perfeito.

Análise do argumento lógico

Premissa 1: Deus é Perfeito, portanto é infinitamente justo.

Premissa 2: Não é justo alguém pagar pelos erros de outra pessoa.

Conclusão: Deus jamais faria alguém pagar pelos erros de outra pessoa, ou estaria sendo injusto e imperfeito. Portanto a teoria do “Pecado Original” é logicamente inconsistente

Conforme apresentamos no capítulo “Noções básicas de lógica”, para que possamos refutar um argumento, é necessário que demonstremos que pelo menos uma das premissas seja falsa ou então que não há uma inferência lógica entre as premissas que leve à conclusão apresentada.

 

Portanto, existe uma diferença muito grande em “discordar” de um argumento e apresentar uma refutação lógica para o mesmo. Para que possamos realmente refutar o argumento acima precisaríamos realizar pelo menos uma das três opções abaixo:

Demonstrar que a premissa 1 é falsa: Neste caso teríamos que dizer que Deus não seria infinitamente justo, ou seja, poderia cometer injustiças, o que equivaleria a dizer que Deus não seria perfeito, indo assim de encontro a todas as Doutrinas existentes que defendem a perfeição Divina.

 

Demonstrar que a premissa 2 é falsa: Neste caso teríamos que contestar o próprio conceito básico de justiça que é “dar a cada um aquilo que é de seu merecimento”, assumindo o absurdo de que seria justo alguém sofrer ou pagar pelos erros cometidos por outra pessoa.

 

Demonstrar que as premissas não conduzem à conclusão: No caso seria impossível negar a existência de inferência lógica entre as premissas uma vez que ambas levam claramente à conclusão: Ora, se Deus é justo (primeira premissa), e não é justo alguém pagar por algo que não fez (segunda premissa), deduz-se inequivocamente que Deus jamais poderia fazer alguém pagar por algo que não fez.

Desta forma, ao analisarmos o argumento acima, vemos que as duas premissas são verdadeiras e há inferência lógica inquestionável entre as mesmas. Assim concluímos, através do rigor da lógica, que o argumento acima é válido e consistente, o que demonstra a ilogicidade da Teoria do pecado original.

 

 

Contradições da Teoria do pecado original

No capítulo “Noções básicas de lógica” deste trabalho apresentamos o “Princípio da não contradição”, que afirma que algo não pode ser “FALSO” e ao mesmo tempo ser “VERDADEIRO”, ou seja, algo não pode “SER” e “NÃO SER” simultaneamente. Ora, se Deus é “Justo”, ele não é “injusto”. Então não podemos ao mesmo tempo afirmar que “Deus é justo” e em seguida atribuir-lhe a prática de uma injustiça. Ao fazermos isto estaríamos cometendo o que chamamos em lógica de “contradição”.

Desta forma, a Teoria do “pecado original” nos leva a uma contradição clara e evidente, pois, através dela, afirma-se que “Deus é justo”, mas “comete uma injustiça”, punindo milhões de pessoas por algo que apenas outras duas fizeram.

Além desta contradição intrínseca, a teoria do pecado original entra em contradição com outra passagem encontrada na própria Bíblia, que diz que uma pessoa não pagará pelo erro de outra:

 

“...o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele”  ( Ezequiel 18:20 )

Então, novamente, como explicar esta contradição? Se a própria Bíblia que é o livro que serve de base às doutrinas Cristãs afirma que uma pessoa não pagará pelo erro de outra, como justificar uma teoria que vai de encontro aos próprios ensinamentos nela contidos?

 

A resposta lógica da Reencarnação

Ao contrário das Doutrinas Cristãs tradicionais, que se baseiam na crença em uma vida única, a Reencarnação explica, através de uma lógica muito consistente, a causa dos sofrimentos humanos, pois é capaz de identificar a origem dos mesmos nas ações realizadas em vidas anteriores. O Livro “O céu e o Inferno”, de Allan Kardec, traz, em seu capítulo VII, artigo 10, a seguinte explicação:

 

“O Espírito sofre de acordo com as suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no corporal. Todas as misérias, todas as dificuldades que ele enfrenta na vida corpórea são as conseqüências de suas próprias imperfeições, as expiações de faltas cometidas nesta mesma existência ou nas existências anteriores.

Pela natureza dos sofrimentos e das dificuldades que ele enfrenta na vida corpórea, podemos julgar a natureza das faltas cometidas numa existência anterior e quais as imperfeições que as causaram.”

 

Embora a Reencarnação seja conhecida desde a mais remota antiguidade, somente o Espiritismo, codificado por Allan Kardec no século 19, veio explicar de forma racional e científica todas as leis que regulam o processo de renascimento e evolução dos espíritos. O “Livro dos Espíritos”, livro básico da codificação Espírita, apresenta de forma detalhada os princípios que sustentam a lógica da Reencarnação, dentre os quais:

 

1. Evolução

Deus, a Suprema inteligência, cria continuamente espíritos em condições de absoluta igualdade, ou seja, “simples e ignorantes”, dando-lhes a oportunidade para que os mesmos possam evoluir, tanto moral quanto intelectualmente, por seus próprios méritos, através da encarnação na matéria.

2. Livre-arbítrio

A todos é dado o “livre-arbítrio”, ou seja, o poder para decidir qual direção tomar: o caminho do bem, da evolução e do progresso moral e intelectual ou no caminho do mal e da estagnação. Nem o próprio Deus interfere no livre-arbítrio de uma pessoa.

3. Lei de Causa e Efeito

Todo efeito tem uma causa, e cada ação gera um efeito proporcional à causa que o gerou. Ninguém paga por algo que não fez ou por algo que outra pessoa fez. Deus não pune ninguém! Suas leis, infinitamente sábias e justas, mantém o equilíbrio e a harmonia do universo, sem que Ele necessite ficar interferindo através de castigos e recompensas. Através da Lei de Causa e Efeito, cada um colherá os frutos correspondentes às ações que ele mesmo tiver praticado.

4. Reencarnação

A Reencarnação na matéria é o caminho através do qual Deus concede aos seres humanos sua infinita misericórdia. Através das vidas sucessivas, os espíritos têm a oportunidade de reparar os erros cometidos e, assim, atingirem um dia um nível evolutivo em que não necessitem mais renascer neste planeta, ou seja, não necessitarão mais utilizar-se de um corpo material, passando a atuar em planos mais elevados e sutis a que muitos chamam de “céu”.

 

Desta forma, observamos que a Reencarnação não está sujeita à ilogicidade apresentada no argumento central deste capítulo, pois ninguém jamais será “punido” por algo que não fez ou pelos erros de outra pessoa. Então Deus, pela ótica reencarnacionista, pode realmente ser considerado “justo”, pois a cada um é dado apenas “segundo suas obras”.

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