Noções básicas de Lógica
“A lógica é a anatomia do pensamento.” (John Locke)
Premissa 1: “Todos os metais são condutores de eletricidade” (VERDADEIRA)
Premissa 2: “O cobre é um metal” (VERDADEIRA)
Conclusão: “O cobre é condutor de eletricidade” (VERDADEIRA)
A lógica é um dos campos da Filosofia, desenvolvida pelo grego Aristóteles (384-322 A.C.), um dos pensadores mais influentes em toda a história da filosofia ocidental. Ela pode ser considerada como uma disciplina introdutória para qualquer estudo filosófico e prevê basicamente que é possível chegar a conclusões consistentes a partir de noções preliminares sobre um assunto específico.
Não é necessário, para os objetivos desde trabalho, fazer um estudo aprofundado de lógica repleto de fórmulas e revestido de uma linguagem complexa, uma vez que nos utilizaremos de argumentos bastante simples e objetivos. Contudo, para aqueles que não estão familiarizados a este assunto, apresentaremos alguns conceitos fundamentais, para que possam entender de que forma podemos utilizar esta poderosa ferramenta para o direcionamento de nossos raciocínios e o desenvolvimento argumentos lógicos com conclusões válidas, contidos nos próximos capítulos.
Argumento Lógico
O primeiro passo para entendermos o funcionamento da lógica é saber o que é um Argumento. Argumento é um conjunto de afirmações, também conhecidas como “proposições” ou “premissas”, que estão relacionadas entre si, e levam a uma conclusão. É um raciocínio lógico onde toda premissa, assim como toda conclusão, pode ser apenas verdadeira ou falsa.
Exemplo:
Argumento válido ou consistente
Para que um argumento seja considerado válido ou consistente, é necessário que a conclusão apresentada pelo mesmo seja realmente uma consequência do que foi afirmado nas premissas, ou seja a inferência entre as premissas deve levar inevitavelmente à conclusão.
Analisando o argumento acima vemos que há uma “inferência lógica” entre suas premissas, ou seja, da interação entre as duas premissas, podemos chegar a uma conclusão irrefutável. Portanto o argumento pode ser considerado “válido” ou “consistente”.
Ora, se Todos os metais conduzem eletricidade, e o cobre é um metal, então podemos concluir de forma inequívoca, ou seja, sem nenhuma possibilidade de erro, que o cobre conduz eletricidade. Um argumento válido que foi derivado de premissas verdadeiras é chamado “argumento consistente”. Tais argumentos obrigatoriamente levam a conclusões verdadeiras.
Refutação de um argumento
Não é possível refutar um argumento lógico apenas com a apresentação de uma “crença” ou opinião pessoal” de que o mesmo seja falso. Para se refutar um argumento através da lógica é necessário demonstrar que:
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Pelo menos uma das premissas do argumento não é verdadeira, ou
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Não há inferência lógica entre as premissas que leve à conclusão apresentada
Por exemplo, utilizando o argumento anteriormente apresentado, somente poderíamos refutá-lo e provar que sua conclusão não seria verdadeira, ou seja, que o cobre não seria um condutor de eletricidade, através da apresentação de pelo menos uma das 3 situações abaixo:
1. Demonstração de falsidade da premissa 1: Teríamos que demonstrar que nem todos os metais são condutores de eletricidade. Portanto, mesmo o cobre sendo um metal, poderia não conduzir eletricidade.
2. Demonstração de falsidade da premissa 2: Teríamos que demonstrar que o cobre não é um metal e, portanto, se todos os metais conduzem eletricidade, o cobre poderia não conduzi-la.
3. Demonstração que as premissas não levam à conclusão: Ou seja, teríamos que demonstrar que, mesmo sendo verdadeiro que todos os metais conduzem eletricidade (premissa 1) e que o cobre é um metal (premissa 2), não poderíamos concluir que o cobre conduz eletricidade, o que obviamente é impossível, ou seja, a inferência entre as duas premissas é clara e elas nos levam à conclusão inequívoca de que o cobre conduz eletricidade.
Não ocorrendo pelo menos uma das 3 situações acima, é impossível realizar a refutação do argumento e questionar sua conclusão. Da mesma forma não se pode refutar um argumento simplesmente porque o mesmo vai de encontro a um dogma ou algo que está escrito em um “livro sagrado”. Tal argumentação não poderia ser considerada uma refutação lógica, apenas a simples apresentação de uma opinião pessoal.
“Falácia” ou Argumento Inválido
Um argumento é chamado de Falácia quando, embora suas premissas possam ser verdadeiras, não há uma inferência lógica entre as mesmas para sustentar a conclusão.
Exemplo:
Premissa 1: “Todos os Brasileiros falam Português”
Premissa 2: “José Fala Português”
Conclusão: “José é Brasileiro”
Mesmo considerando que as duas premissas acima sejam verdadeiras, o argumento é inválido, ou seja, é uma falácia, pois a premissa 2 (José fala Português) não permite concluir que José é Brasileiro pois “nem todos que falam Português são Brasileiros”. José poderia, por exemplo, ser de nacionalidade Portuguesa ou possuir outra nacionalidade.
Existem diversos tipos de falácias. Uma das mais utilizadas por aqueles que não conseguem apresentar uma refutação lógica a um argumento é a que chamamos de “Argumentum Ad Ignorantiam”, ou “Apelo à ignorância”. Esta falácia consiste em refutar um enunciado só porque ninguém provou que é verdadeiro, ou em defende-lo, só porque ninguém provou que é falso.
Exemplo:
Premissa 1: “Ninguém até hoje provou a existência de Deus”
Conclusão: “Deus não existe”
Ou então:
Premissa 1: “Ninguém conseguiu provar que Deus não existe”
Conclusão: “Deus existe”
Os proponentes desta falácia colocam-se em um situação muito cômoda, pois transferem o ônus da prova aos que deles discordam e, caso não seja fornecida tal prova, assumem que seu argumento é verdadeiro.
Ora, basta voltarmos a eras remotas, onde muitos acreditavam que a Terra era plana. Defensores de tal teoria poderiam afirmar, de forma falaciosa, que “como ninguém havia conseguido provar que a Terra era redonda, então a mesma era, com certeza, plana”. Vemos então que os argumentos falaciosos não são consistentes, portanto não produzem conclusões verdadeiras.
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Princípio da Não-Contradição
Um dos princípios da lógica, o "Princípio da não contradição", afirma que uma premissa não pode ser falsa e verdadeira simultaneamente, ou seja, uma coisa não pode "ser" e "não ser" ao mesmo tempo pois a veracidade de uma delas automaticamente anula a outra. A Contradição consiste em uma incompatibilidade lógica entre duas ou mais afirmações.
Exemplo:
Premissa 1: “Nenhum mamífero bota ovos
Conclusão: “O Ornitorrinco é um mamífero, mas bota ovos”
As duas premissas acima são completamente incompatíveis pois, se a primeira for verdadeira (Nenhum mamífero bota ovos), a segunda (O Ornitorrinco é um mamífero, mas bota ovos) tem que ser falsa.
Por outro lado, se a segunda premissa for verdadeira, a primeira será falsa. Desta forma é impossível que as duas premissas sejam verdadeiras ao mesmo tempo, pois uma contradiz a outra.
Usando a Lógica para invalidar dogmas
Em nosso trabalho utilizaremos com frequência a lógica para identificar as contradições existentes em alguns dogmas religiosos, como exemplificamos no argumento abaixo:
Premissa 1: “O perdão de Deus é infinito."
Premissa 2: "Deus não perdoa após a morte"
No argumento acima encontramos uma contradição clara entre as premissas. Ora, infinito é o que não tem fim, portanto o infinito de uma qualidade exclui completamente a possibilidade da existência de uma qualidade contrária que a diminuiria ou a anularia. A primeira pressima afirma que o Perdão Divino é infinito, porém a segunda apresenta uma situação (após a morte) em que o perdão Divino “deixa de existir”, ou seja, tem limite, é finito. Porém algo não pode ser “finito” e “infinito” ao mesmo tempo.
Portanto, podemos dizer que a lógica é a melhor ferramenta para que possamos chegar à verdade, ou o mais próximo dela, pois através dela podemos demonstrar a consistência ou não de um argumento, de forma absolutamente imparcial e independente de quaisquer tipos de dogmas e “verdades absolutas”.