Princípio da Igualdade
"Não acrediteis em outro Deus senão aquele que insiste na justiça e na igualdade entre os homens"
(George Sand)
O “Princípio da Igualdade” é uma doutrina moral, filosófica e legal que afirma que “Todos os seres humanos são iguais” e deveriam ser tratados com igualdade perante a lei, "sem distinção de qualquer natureza”. Tal princípio é tão importante que está presente nas constituições de vários países, inclusive na constituição Brasileira. Então perguntamos: Se a igualdade é um principio tão importante, como poderia o mesmo não estar presente nas Leis Divinas? Se Deus é infinitamente Perfeito, Suas Leis consequentemente não podem ser inferiores às leis humanas!
A crença na existência de apenas uma vida e, portanto, na inexistência de uma causa justa que explique os sofrimentos e as diferenças existentes entre as pessoas, deixa “lacunas” inexplicáveis do ponto de vista lógico. Uma destas lacunas é a inexistência de um princípio de igualdade. Vejamos:
1. "Por que uns nascem perfeitos enquanto outros nascem cegos, paralíticos ou com doenças terríveis que lhes infligem grandes sofrimentos ao longo de toda sua vida?”
2. “Por que uns nascem em famílias com boa estrutura material e moral, que lhes dão todos os recursos para que sigam o caminho do bem, enquanto outros nascem totalmente desprovidos de qualquer estrutura material e moral, jogados, desde a infância, no caminho da criminalidade?”
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Já vimos que o conceito de Justiça é “dar a cada um aquilo que lhe pertence”, ou seja, a cada um o que é de seu merecimento. Neste caso, se considerarmos um grupo de indivíduos que possuem exatamente o mesmo merecimento, deduzimos que todos devem ser submetidos a um critério de igualdade, ou seja, todos devem receber rigorosamente na mesma medida, não devendo haver qualquer tipo de privilégio ou favorecimento a uns em detrimento de outros. Não havendo este critério de igualdade, obviamente não estará sendo feita justiça.
Então analisemos: Se existisse apenas uma vida, todas as pessoas que nascem teriam o mesmo grau de merecimento, uma vez que não teriam tido uma vida anterior que pudesse criar um merecimento diferenciado para cada uma delas e, ainda que levássemos em consideração a existência do chamado “Pecado original”, todos estariam nascendo sob o peso do “mesmo pecado” e, portanto, deveriam estar sob o mesmo critério de igualdade, porém verificamos que não é isso o que ocorre.
Podemos identificar 3 situações principais de desigualdade neste sistema:
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Primeira classe: Indivíduos que morrem muito jovens, quando ainda são crianças. Neste caso, segundo as Doutrinas Cristãs tradicionais, tais indivíduos conseguiriam a “salvação eterna” automaticamente, sem nada terem feito para merecê-la.
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Segunda classe: Indivíduos que nascem em famílias que lhes dão uma excelente formação moral, propiciando-lhes evidentemente uma maior chance de prosseguirem no caminho do bem e, assim, conseguirem a “salvação”.
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Terceira classe: Indivíduos que nascem em ambientes promíscuos, que lhes afastam, desde pequenas, de qualquer princípio moral, tornando assim evidentemente mais difícil de encontrarem o caminho do bem e conseguirem a “salvação”.
Então questionamos: Seria este critério justo? Se todos teriam apenas “uma chance” , ou seja, apenas o curto período de uma vida para conseguirem algo tão importante, que é a salvação eterna de suas almas, seria justo que fossem submetidos a condições tão desiguais?
Façamos uma analogia para facilitar nossa análise: Imaginemos um grupo de indivíduos que terão que passar por uma “prova”: Atravessar um árido deserto para conseguirem chegar a um oásis e assim salvarem suas vidas. Porém a cada um deles são dadas condições totalmente diferentes para que consigam atingir tal objetivo:
Alguns indivíduos receberão todo o suporte antes da travessia: Suprimentos, instruções, mapas e uma bússola para que se orientem no meio do deserto e possam, assim, encontrar o oásis e se salvarem. Outros receberão pouco ou praticamente nenhum suporte: terão que realizar a travessia desprovidos da maioria dos itens que o primeiro grupo recebeu. Por fim, um terceiro grupo de indivíduos serão os mais “privilegiados”: Serão selecionados aleatoriamente, no meio da travessia, retirados do deserto e conduzidos imediatamente ao “oásis” sem que tenham que fazer absolutamente nada para receberem tal benefício.
Entre este grupo de indivíduos teríamos aqueles completamente saudáveis e perfeitos, mas também outros com deficiências (cegos, surdos, paraplégicos), todos eles submetidos às mesmas “exigências” para conseguirem se salvar.
Questionemos: Poderíamos dizer que houve um critério justo? Ora, evidentemente que não! Supondo que todos os indivíduos do grupo, submetidos à mesma “prova” para atingir o mesmo objetivo, tivessem o mesmo grau de merecimento, obviamente deveriam ter recebido as mesmas condições desde o início, ou seja, deveria ter havido um critério de igualdade. Do contrário jamais poderíamos dizer que houve justiça.
Alguns poderiam argumentar que, mesmo com a clara desigualdade de condições, alguns dos indivíduos que foram mais “afortunados” e receberam mais recursos poderiam se perder no “deserto” e não conseguiriam se salvar, enquanto outros, que foram totalmente desprovidos de recursos iniciais, poderiam conseguir chegar ao tão sonhado “oásis” e conseguirem salvar-se. Realmente, isso poderia mesmo acontecer. Contudo, o fato de que indivíduos que receberam menos recursos iniciais possam conseguir sua salvação, não muda as condições de desigualdade que estão sendo aqui questionadas.
O que está em discussão são os critérios desiguais a que cada um foi submetido desde o início e se tais critérios podem ser considerados justos. Portanto, a menos que houvesse uma justificativa originada antes do início da “prova”, para que cada um recebesse condições tão diferenciadas, podemos dizer que tais critérios seriam absolutamente injustos!
Seguindo rigorosamente a mesma linha de raciocínio, ao analisarmos as doutrinas que defendem a existência de uma única vida, verificamos que as mesmas não apresentam um critério de Igualdade, pois, para atingir o mesmo objetivo, que seria a “salvação de suas almas”, as pessoas seriam submetidas, desde o nascimento, a condições absurdamente desiguais, não apenas no sentido de privações e sofrimentos, mas também em condições que diminuem muito as chances dos menos afortunados em conseguirem tal “salvação”.
Por outro lado, alguns receberiam a salvação “automaticamente”, no caso daqueles que morrem ainda crianças, recebendo uma recompensa “eterna” sem absolutamente nenhum merecimento como justificativa. Desta forma, tais Doutrinas não conseguem oferecer qualquer explicação consistente para a desigualdade existente entre as pessoas.
Análise do Argumento lógico
Premissa 1: Deus é justo
Premissa 2: Em um sistema justo, indivíduos com o mesmo merecimento devem ser tratados com igualdade.
Conclusão: Deus jamais poderia tratar com desigualdade indivíduos com o mesmo grau de merecimento, concedendo a alguns vantagens e privilégios imerecidos..
Vimos no capítulo “Noções básicas de lógica” que, para refutarmos um argumento, é necessário que demonstremos que pelo menos uma das premissas seja falsa, ou então que não há uma inferência lógica entre as premissas que leve à conclusão apresentada. Portanto, para refutarmos o argumento acima, precisaríamos realizar pelo menos uma das três opções abaixo:
Demonstrar que a premissa 1 é falsa: Para tal, precisaríamos afirmar que “Deus não é justo” e, neste caso, também não seria Perfeito.
Demonstrar que a premissa 2 é falsa: Para isso precisaríamos demonstrar que seria justo que pessoas com o mesmo merecimento fossem tratadas com desigualdade, sem nenhum motivo que justificasse tal tratamento desigual. Porém não há como justificar a desigualdade sem distorcer o próprio conceito de Justiça, que é “dar a cada um conforme seu merecimento”.
Demonstrar que as premissas não conduzem à conclusão: Impossível questionar a inferência lógica existente entre as premissas e a conclusão: Ora, se Deus é Justo (premissa 1), e um Sistema Justo não permite a desigualdade entre indivíduos de mesmo merecimento (premissa 2), consequentemente Deus, em seu Sistema de Justiça, jamais poderia impor um tratamento desigual entre indivíduos com mesmo grau de merecimento
Desta forma, o argumento acima pode ser considerado válido e consistente, pois suas premissas são verdadeiras e há uma inferência lógica entre as mesmas que levam à conclusão.
Se justiça é dar a cada um de acordo com seu merecimento, ninguém pode jamais receber mais ou menos do que merece. Se houvesse apenas uma vida, todos seriam criados “com o mesmo grau de merecimento”. Mesmo com a suposta (e ilógica) teoria do pecado original, todos estariam entrando no mundo “com o mesmo pecado”, neste caso, todos deveriam ser submetidos às mesmas condições de igualdade.
Portanto, se houvesse apenas uma vida e nenhuma causa justa para explicar os sofrimentos humanos, poderíamos dizer que Deus estaria cometendo duas grandes injustiças ao mesmo tempo:
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1. Fazendo com que todas as pessoas “Já nascessem em pecado” e, assim, pagassem pelos erros que não cometeram (Pecado original)
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2. Impondo às pessoas, desde o nascimento, condições e sofrimentos absolutamente desiguais e concedendo a alguns, inclusive, o privilégio de adquirirem a “salvação eterna” sem nenhum tipo de merecimento.
Portanto, como justificar as tragédias que atingem certas pessoas que morrem jovens em terríveis acidentes ou são acometidas de doenças que lhes impõe sofrimentos terríveis durante anos até sua morte? Como justificar a dor dos pais que perdem seus filhos? Por que alguns passam por estas tragédias e outros não? Ora, se todos nasceram sob o peso do mesmo pecado (Pecado original), como justificar esta gigantesca desproporção de sofrimento?
Na verdade, podemos dizer categoricamente que, sem a Reencarnação, jamais encontraremos uma resposta lógica e consistente para estas perguntas.
Reencarnação = Critério de igualdade absoluta
A Reencarnação é a única doutrina capaz de apresentar uma explicação absolutamente lógica e racional para a causa da desigualdade existente entre as pessoas: Cada um já trás, de vidas anteriores, uma bagagem, ou seja, uma somatória de conhecimentos adquiridos, assim como também débitos a serem quitados, provenientes das mesmas. Não há, desta forma, qualquer tipo de injustiça ou qualquer tipo de desigualdade.
Podemos encontrar na história vários casos de “crianças-prodígio” que apresentam, com poucos anos de idade, uma habilidade extraordinária com instrumentos musicais, que uma pessoa normal levaria décadas para desenvolver, ou outras que podem ser consideradas “gênios” em matemática ou qualquer outro tipo de conhecimento teórico, demonstrando uma habilidade inata e extraordinária desde o nascimento.
Wolfgang Amadeus Mozart foi, provavelmente, a mais genial das crianças-prodígio de todos os tempos. Mozart já mostrava uma habilidade musical prodigiosa desde sua infância. Com 5 anos de idade já compunha e tocava vários instrumentos com maestria!
Alguns poderiam sugerir que a genialidade demonstrada na mais tenra infância é proveniente de uma herança genética dos antepassados da criança. Porém há casos de crianças com talentos extraordinários que não apresentam nenhuma referência familiar que justifique tal talento, e também casos de gêmeos idênticos em que um deles demonstra uma habilidade ou conhecimento extraordinários e o outro não. Se tal habilidade ou conhecimento fosse herdado geneticamente, ambos o teriam.
Se houvesse apenas uma vida e nós fôssemos criados por Deus no momento do nascimento, então Ele estaria usando critérios absolutamente aleatórios e desiguais para definir quais seriam gênios intelectuais ou os gênios da música, da pintura ou da literatura, e quais teriam conhecimentos apenas limitados.
A Doutrina Espírita, através da Reencarnação, nos oferece a única explicação lógica, pois nos ensina que as habilidades e conhecimentos adquiridos por um espírito em uma vida anterior jamais se perdem e os mesmos trazem tais conhecimentos e habilidades intuitivamente, para a vida atual, demonstrando-os desde a mais tenra infância. Esta é, de longe, a explicação mais lógica e consistente que poderemos encontrar para explicar as desigualdades existentes entre as pessoas.
Ainda segundo o Espiritismo, os espíritos não são todos criados na mesma época, e sua criação é contínua no universo. Porém todos são criados de forma absolutamente igual, ou seja, “simples e ignorantes”. A partir de então todos seguem seu próprio caminho, uma vez que são todos dotados do Livre arbítrio e estão rigorosamente submetidos à Lei de causa e efeito. Sendo assim, recebem, de forma absolutamente justa, os frutos positivos ou negativos de seus próprios atos, em uma longa jornada de aprendizado. Isto explica de forma bastante consistente a existência das enormes desigualdades entre as pessoas.
Sob a ótica Reencarnacionista, Deus jamais, em hipótese alguma, concede mais condições a uns e menos a outros. Todos são iguais perante o Criador Supremo, que concede a todos exatamente as mesmas chances e oportunidades infinitas de evolução.
Desta forma, além de não encontrarmos na Reencarnação as contradições existentes nas Doutrinas que defendem a crença na existência de uma única vida, através dela visualizamos um Criador infinitamente perfeito e justo, que jamais imporia a seus filhos quaisquer tipos de diferenças ou sofrimentos imerecidos.