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 Mensagem de Roberto Muszkat

Roberto Muszkat nasceu na cidade de São Paulo no dia 16 de novembro de 1959. Filho do médico Chyja David Muszkat e de Sonia Golcman Muszkat. Na noite de 14 de março de 1979, Roberto faleceu devido a uma  reação alérgica extremamente grave. Cinco meses depois, pelas mãos de Francisco Cândido Xavier, ele retornou escrevendo sua primeira carta à qual se seguiram mais de vinte e uma, as quais foram organizadas e comentadas por seu pai no livro “Quando se pretende falar da vida”.

A autenticidade das mensagens foi comprovada por vários de seus familiares, sendo que várias delas continham textos em hebraico e detalhes que somente seu pai sabia, e outra continha uma informação que ninguém da família tinha conhecimento, conforme relatado por sua mãe em uma entrevista.  Em uma das mensagens, Roberto assinou como “Rob”. Sem entender, ela perguntou ao Chico o “porquê” de ele ter assinado com este nome, e Chico lhe respondeu que “um dia a senhora irá descobrir”. Somente dois anos depois, quando a família estava reunindo material para o lançamento do livro sobre Roberto, sua irmã localizou um caderno com manuscritos originais deixados por Roberto, no qual constava exatamente a assinatura como “Rob”!

 

“Querida Mãezinha Sonia, meu querido Pai e irmãos sempre amados, a Bênção da Paz permaneça conosco.
Estou emocionado. Uma festa diferente num ambiente novo. Celebração dos vinte novembros na Terra. Não sei como escrever o que sinto. Ficaria contente se pudesse usar minhas próprias lágrimas de alegria para configurarem palavras o júbilo de que me sinto possuído.

Pais queridos, nunca imaginei, em minha existência ligeira, pudesse comemorar o primeiro aniversário de minha permanência no Plano Físico, depois de haver passado pela chamada "liberação do corpo". Agradeço o carinho que colocaram em nossas lembranças.

A Mãezinha Sonia, para a nossa felicidade tomou a veste branca, após o luto de tantos meses de saudade e quase desolação. Os irmãos esvaziaram as poupanças para me presentearem na pessoa de nossos companheiros menos felizes (1). E o Céu, segundo esperamos, nos proporcionará no entardecer de amanhã uma festa brilhante, de corações para corações, como nunca pensei conseguir presenciar.
Dizer "muito obrigado" é tão pouco, no entanto, querido pai, o que fazer senão aproveitar os recursos que se tem para manifestar os nossos melhores sentimentos?


Desejava ser eu mesmo a dádiva de paz e fraternidade a ser entregue, a fim de louvarmos não a minha memória pessoal e, sim, o Eterno Doador de Tudo o que possuímos.


Não me descarto da nossa alegria e, por isso, aspiro a dizer que todas essas bênçãos pertencem à Sabedoria do Amor Infinito que nos reuniu para sempre nos laços benditos da comunhão espiritual em que nos reconhecemos.


Querida Rachel, queridos irmãos Moises, Renato e Ricardo, conservando igualmente a Rosana por flor de carinho a enfeitar-nos as lembranças, agradeço a vocês todos, irmãos queridos, pela felicidade que me ofertam e pelas mensagens de ternura que me dirigiram.

Espero que nossos pais sempre queridos se orgulhem de nós, no desempenho de nossos deveres, através do tempo e da Vida. É verdade que a Lei me transferiu de residência, mas não me alterou os sentimentos. Sou o mesmo irmão amigo e reconhecido que lhes deve tanto.

Aos pais amados, o nosso reconhecimento por nos haverem recolhido nos braços, habilitando-nos para viver segundo os preceitos da Luz Divina que nos regem a existência. Mãezinha querida, agradeço a sua fé, o seu entusiasmo na construção do bem, a sua confiança na Espiritualidade e o seu dom de servir, tão claramente manifesto, na preparação da alegria que me reservaram.

Estou feliz e formulo votos para que a nossa plenitude de paz doméstica consiga envolver todos os ingredientes do nosso encontro com a família maior, junto da qual nos reconheceremos cada vez mais integrados em nossos compromissos de fidelidade ao Santo dos Santos. 

Papai querido, estou satisfeito e comovido com a sua presença. Conheço a extensão de suas responsabilidades e obrigações e sei quanto vale cada hora de sua presença, especialmente junto de nossos doentes, pedaços da família espiritual que os Mensageiros do Bem Eterno colocaram em nossos braços.


Beijo-lhe as mãos reconhecidamente e faço preces do coração por sua tranqüilidade e segurança.

Conversei com a Mãezinha Sonia sobre as minhas primeiras impressões da Vida Espiritual, quando pude tomar do lápis pela primeira vez, entretanto, hoje, com permissão de nossos Mentores Maiores, peço o seu consentimento para contar-lhe que o meu desligamento do corpo foi rápido.


Horas antes, nada previa com relação ao acontecimento significativo que me aguardava. Preparava-me para o descanso depois de haver medicado o trato nasal, quando senti no peito algo semelhante a uma pancada que me alcançou todas as redes nervosas. Tentei falar mas não consegui. Um torpor suave se seguiu ao fenômeno e notei que um sono compulsivo me invadia a cabeça.

Percebi intuitivamente que me deslocava do corpo, embora permanecesse vinculado a ele, quando em meio do esforço para definir o que sentia para a análise de meu próprio raciocínio, ouvi nitidamente sobre mim a voz inesquecível de alguém pronunciando as santas palavras: "Baruch Dayan Emet" (2) e reconheci que a frase não partia dos nossos de casa...


Busquei identificar-me com a sublime expressão de louvor, mas o torpor aumentava. O frio nas extremidades me compelia a admitir a presença da liberação física e rendi-me aos desígnios do Eterno, tentando seguir o rumo em que a voz se expressara, qual se me houvesse transformado num pássaro ansioso por saber a direção do meu novo ninho, já que não mantinha mais qualquer dúvida sabre a ocorrência que me separava da moradia corpórea, à maneira do inquilino que se vê expulso da própria habitação, atendendo a influências compulsivas; no entanto, entre aquela voz e eu mesmo estava o desmaio que me consumia o discernimento...
 

Foi quando tomado de estranha sensação de bem-estar, escutei ainda as palavras: "Leshaná Habaá bi-Yerushalayim".(3) Compreendi que era um adeus e dormi com a tranqüilidade de uma criança. Mais tarde, soube que o meu avô Moszek Aron ditara em meu favor aqueles vocábulos santos para que me aquietasse, contando com os imperativos do Mais Alto.

Quando acordei, me via num leito alvo com a Vovó Rachel velando por mim. Dias se passaram, sem que eu lhes saiba da conta. Entendi sem relutância que já não mais me encontrava em nossa casa e, sim, numa "outra vida", que se fazia surpresa e deslumbramento para os meus pensamentos de moço.
Depois de algum tempo, o Vovô Moszek veio ao meu encontro. Reanimou-me. Restabeleceu-me o auto-controle e a autoconfiança. Quando me buscou para encontrar outros amigos no recinto dedicado à oração, no amplo educandário-hospital, chorei de emoção ao observar que formosa turma de pessoas amigas, que eu não conhecia, pronunciava as palavras: "Boi Beshalom". (4)

Em seguida, cantaram, esses novos companheiros, o hino Shalom Aleichem.(5)
Terminado o cântico, meu avô Moszek achegou-se a mim e assinalando-me com o "Maguem David" (6) falou, abençoando-me: Deus te faça igual a Efraim e a Menashés. (7).

As lágrimas banharam meu rosto, enquanto o avô promovia o Seder (8) em cuja reunião pude fazer muitas perguntas. Vim a saber então que me achava em Erets Israel (9), ou Terra do Renascimento, cuja beleza é indescritível.

Ali, naquela província do Espaço Terrestre, se erguia uma outra cidade luminosa dos Profetas. Os que choraram no mundo, os que sofreram torturas, os que foram martirizados e queimados, perseguidos e abatidos por amor à Vitória do Eterno e Único Criador da Vida operavam repousando ou descansavam trabalhando pela edificação da Humanidade Nova.


Com estes apontamentos não quero dizer que estava tanto quanto prossigo, numa cidade privilegiada, porque outras nações as possuem nas esferas que cercam o Planeta, mas aquele recanto era o meu coração pulsando com milhares ou milhões de outros corações, consagrados ao Pai Único.    


Pai querido, lembrei-me de nossa união no Lar e chorei de saudade e esperança, amor e alegria. Revisei a imagem da família querida e reunindo o seu carinho, a ternura de minha mãe e a dedicação de meus irmãos por dentro de minha própria alma, enviei-lhes, sem saber como fazia semelhante mensagem, as palavras inolvidáveis de Ruth a Noemi: "Onde fores, também irei, o seu povo será o meu povo, o seu rei será o meu rei".(10)

Pelo que digo, são capazes de avaliar as minhas emoções na Vida nova em que me reconheço, começando a estudar e a trabalhar, sob clima diferente do Mundo Físico.

Meu avô Moszek presente aqui me solicita terminar a narrativa do que me aconteceu e acontece. Veio ele, com um amigo de nome Moritz Heiman e, em minha companhia, está o Moyses Zatyrko que saúda os queridos pais, Rosa e Boruch.(11)

Desejava prosseguir, mas não posso.

Meu querido pai, muito grato pelo crédito que me concede, fazendo companhia à Mãezinha e aos irmãos queridos para compartilharmos das mesmas alegrias e das mesmas orações. Diz meu avô que amanhã, antes de começar o novo dia do calendário, teremos o nosso "Oneg Shabat" (12) e estamos todos felizes.
Pais queridos e amados irmãos, agradeçam por mim aos amigos que me hospedam neste recinto de paz e recebam todos juntos o abraço de muito carinho e muito amor, com muita esperança no futuro e muita fé em nossas realizações no presente, do filho e irmão reconhecido.” Roberto Muszkat – 16 de Novembro de 1979


Notas de David Muszkat  (pai de Roberto):

 

1) Desde a partida de Roberto para o Plano Espiritual, seus pais e irmãos comemoram seu  aniversário de nascimento em Uberaba, no Hospital do Fogo Selvagem e num dos bairros pobres da cidade, distribuindo mantimentos, roupas e brinquedos. Roberto mostra-se reconhecido aos irmãos, que, para participar das festas de luz que os genitores organizam, servem-se de suas poupanças, oferecendo-nos extraordinário exemplo de abnegação e de respeito aos companheiros mais carentes.
2) É da tradição hebraica que como ato final da cerimônia de sepultamento de um familiar, com o corpo presente, os parentes mais diretos façam uma oração que termina com a frase:
- Baruch Dayan Emet - Abençoado seja o juiz verdadeiro ou abençoado seja o juiz da verdade.
Com a mesma frase, Roberto foi recebido pelo avô no Plano Espiritual.
3) Leshaná Habaá bi-Yerushalayim - O ano que vem em Jerusalém.
4) Boi Beshalom - Venha em paz.
5) Shalom Aleichem - Hino que dá as boas vindas aos anjos da paz, cantado na sexta-feira à noite.
6) Maguem David - estrela de David.
7) Deus te faça igual a Efraim e Menashés - irmãos gêmeos, filhos de Jacob. Esta frase é uma tradicional bênção paternal.
8) Seder - a ceia festiva na primeira e na segunda noite da Páscoa judaica. Comemorar o Seder era hábito muito cultivado pelo avô paterno.
9) Erets Israel - Terra de Israel.
10 ) Conforme fala o Velho Testamento, Noemi tinha dois filhos casados com moças moabitas (não judias) e Ruth era uma delas. Com a morte dos filhos, Noemi retornou a Israel, em companhia de sua nora Ruth que se converteu ao judaísmo, dizendo a Noemi as palavras citadas por Roberto.
11) Provavelmente, Moritz Heiman, amigo de seu avô paterno, ao tempo em que residia na Polônia, nos idos de 1920. Moyses Zatyrko, filho de Rosa e Jaime Boruch Zatyrko, comandante da TAM, conhecida companhia aérea paulista, faleceu em acidente aéreo no dia 8 de fevereiro de 1979, nas proximidades de Bauru (SP). Sua genitora, D. Rosa Zatyrko, se encontrava em Uberaba, quando da recepção desta carta mediúnica.
12) Oneg Shabat - literalmente significa "alegria de sábado" comemoração festiva no dia do descanso, o sábado (Shabat).

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