Mensagens psicografadas utilizadas como provas em tribunais
Algumas das mensagens psicografadas por Chico ganharam enorme repercussão nacional e internacional por servirem de prova em processos judiciais de casos de assassinato. Em todos os processos, os acusados, submetidos a júri popular, foram inocentados após a análise de mensagens psicografadas, enviadas pelas vítimas, que os eximiram de toda culpa.
O caso mais famoso foi o de Mauricio Garcez, ocorrido no dia 8 de Maio de 1976, na cidade de Goiânia de Campina, Goiás. Maurício Garcez, que então tinha 15 anos, estava na casa de seu amigo José Divino Gomes, que então contava com 18 anos. Nos depoimentos dos autos, consta que ambos estavam numa despensa anexa à cozinha, quando Maurício abriu uma pasta que pertencia ao pai do amigo e dela retirou, além do cigarro, um revólver.
Acreditando ter retirado todos os cartuchos, os amigos passaram a brincar com a arma, fingindo estar atingindo a imagem do outro no espelho. Então Maurício passou na frente do espelho exatamente no momento em que José Divino acionou o gatilho, sendo efetuado então o disparo de um projétil que atingiu Maurício em pleno peito. De imediato, tanto José quanto sua mãe providenciaram sua remoção em um táxi até o hospital, aonde o mesmo já chegou morto. José Divino foi preso e acusado de homicídio, embora afirmasse ter sido um acidente, pois não havia uma testemunha que pudesse esclarecer o que ocorreu.
Apesar de católicos, três meses depois do ocorrido, os pais de Maurício foram a Uberaba à procura de Chico Xavier, porém a primeira mensagem de Maurício foi recebida por Chico apenas no dia 27 de maio de 1978, dois anos e dezenove dias após sua morte. A mensagem trouxe consolo à família que entendeu que tudo foi um acidente e José não teve culpa.
A carta foi então anexada aos autos do processo e as evidências materiais da mensagem foram tão fortes que o tribunal de Justiça inocentou José Divino. Ao analisar a mensagem, duas coisas chamam a atenção:
1. A descrição de detalhes minuciosos do incidente, que somente José Divino e a própria polícia tinha conhecimento. Ninguém mais sabia dos detalhes, nem o médium Chico Xavier.
2. A assinatura no final da mensagem, que é muito semelhante à de Maurício, como podemos comprovar na figura abaixo:
Abaixo a carta na íntegra:
“Querida Mamãe, meu querido pai, querida Maria José e querida Nádia(1).
Estou em oração, pedindo para nós a benção de Deus. Não posso escrever muito; venho até aqui, com meu avô Henrique(2), só para lhes pedir resignação e coragem.
É preciso nos lembremos de Deus, nos acontecimentos da Terra. Não sei bem falar sobre isso, estou aprendendo a viver por aqui, embora já saiba que saí daqui mesmo para nascer com meus entes queridos (3), na Terra.
Peço-lhes não recordar a minha volta para cá, criando pensamentos tristes. O José Divino e nem ninguém teve culpa em meu caso. Brincávamos a respeito da possibilidade de se ferir alguém, pela imagem no espelho; sem que o momento fosse para qualquer movimento meu, o tiro me alcançou, sem que a culpa fosse do amigo, ou minha mesmo. O resultado foi aquele. Hospitalização de emergência, para deixar o corpo longe de casa.
Se alguém deve pedir perdão, sou eu, porque não devia ter admitido brincar, ao invés de estudar. Mas meu avô e outros amigos me socorreram e fui levado para Anápolis, para ser tratado por uma enfermeira que dirige uma escola de fé e amor ao próximo, que nos diz ser a irmã Terezona(4), amiga das crianças.
Soube que ela conhece meu avô e nossa família, sendo agora uma benfeitora, que preciso agradecer e mencionar. Quanto ao mais, rogo à Nádia e à Maria José, minhas queridas irmãs, para não reclamarem e nem se ressentirem contra ninguém. Estou vivo e com muita vontade de melhorar.
Queridos pais, tudo acontece para o nosso bem e creio que seria pior para mim se houvesse enveredado pelos becos dos tóxicos(5), dos quais muito pouca gente consegue voltar sem graves perdas do espírito. Estou com saudades, mas estou encarando a situação com fé em Deus e com a certeza de um futuro melhor.
Recebam, querido papai e querida mamãe, com as nossas queridas Nádia e Maria José, e com todos os nossos, um abraço de muito carinho e respeito, do filho que lhes pede perdão pelos contratempos havidos.
Prometendo melhorar, para faze-los tão felizes quando eu puder, sou o filho e o irmão saudoso e agradecido, Maurício Gardez Henrique."
Notas:
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Maria José e Nádia eram Irmãs de Maurício e estavam presentes à reunião psicográfica.
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Apolinário Henrique, avô paterno, desencarnado em 15/9/1971.
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Maurício faz uma clara referência à reencarnação.
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Irmã Terezona: Maria Tereza de Jesus, mais conhecida por Terezona, fundou em Anápolis, Goiás, a Romaria de São Bom Jesus da Lapa, nos idos de 1913. Pela sua devoção a Bom Jesus da Lapa, Irmã Terezona tinha o hábito de acender uma vela à tarde e fazer pedidos para os doentes, no que era atendida. Daí sua grande popularidade. Faleceu a 27/4/1930, em Anápolis, com 85 anos de idade. Segundo informações fornecida pelo avô materno de Maurício, Humberto Batista, que a conheceu pessoalmente, de fato ela se dedicava em auxiliar crianças.
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Seria pior para mim se houvesse enveredado pelos becos dos tóxicos: O pai de Maurício interpreta esta comparação como decorrência de sua preocupação com esse problema social, externada várias vezes ao seu filho, alertando-o a respeito do uso de tóxicos pelos jovens, baseado em divulgações da imprensa.
Os pais de Maurício, comovidos com o recebimento dessa Primeira Carta do filho, e convencidos de sua autenticidade e de que tudo não passou de um triste acidente, perdoaram José Divino. Houve outros dois casos no Brasil de pessoas, acusadas de assassinato, que também foram absolvidas após o recebimento de mensagens psicografadas enviadas pelas vítimas, inocentando-as.
Em 1979, Chico Xavier, perguntado por um repórter a respeito da utilização, pela Justiça, de mensagens psicografadas como prova nos tribunais, deu a seguinte resposta: “Eu creio que uma pergunta desta deveria ser endereçada às autoridades do Poder Judiciário, e não a mim que sou apenas um pequeno companheiro de nossas experiências do dia-a-dia. Agora, falando do ponto de vista não apenas de espírita, mas também de cristão, eu me recordo de que o ponto básico da Doutrina Cristã é o da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Isto é, Nosso Senhor Jesus Cristo venceu a morte e nos deu a mensagem da Vida Eterna. Então, como cristão eu acredito que se a mensagem de alguém, que se transferiu para a Vida Espiritual, demonstrar elementos de autenticidade capazes de interessar uma autoridade humana, essa mensagem é válida para qualquer julgamento. (Programa Flávio Cavalcanti, Rede Tupi de Televisão. Rio de Janeiro, RJ, 30/09/1979.)